A opinião de ...

CASA DE TRÁS-OS-MONTES

Na minha juventude, Lisboa tinha uma série de associações regionais, cada uma identificando a comunidade da origem, o que levou o ilustre Augusto de Castro, diplomata e durante muitos anos Diretor do Diário de Notícias, a afirmar que este capital era feito por subscrição nacional de imigrantes. De facto também nesse começo do século XX, os Bairros tinham uma identidade forte, até que a evolução do urbanismo, como em toda a Europa, os fizesse diminuir de importância perante a unidade crescente da cidade. Nesta evolução, a casa de Trás-os-Montes e Alto Douro, foi a que manteve uma forte identidade, e a função de referência da solidariedade transmontana, que eu próprio tive ocasião de verificar, e dela beneficiar, em várias comunidades formadas nos países estrangeiros para onde emigrar foi tradicional, com destaque para o Brasil. É por isso que não pode passar sem registo a iniciativa da atual Direção, presidida pelo infatigável e dedicadíssimo Dr. Hirondino Isaías, que vai ser o IV Congresso CTMAD, a ter lugar no Pavilhão do Conhecimento em Lisboa, no dia 25 de Maio corrente, com a presença de S. Ex.ª o Presidente da República, Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, que se confessou, na mensagem que escreveu, “como transmontano de coração”. Para a Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro, fundada em 1905, é uma homenagem merecida pela terra que foi sempre do Reino, onde se formou a talvez primeira Nação da Europa, que sendo de pequena dimensão, viria a formar um dos maiores Impérios do Mundo Ocidental, com uma presença inapagável no Património Imaterial da Humanidade de que a UNESCO especialmente se ocupa. A iniciativa da Casa de Trás-os-Montes ficará marcada pela organização de uma Antologia de Autores Transmontanos, Durienses e da Beira Transmontana, coordenado por Armando Palavras, ordenando um coletivo de autores de autoridade reconhecida. Será um enriquecimento incalculável para a História da Cultura Portuguesa, numa data em que a proteção das Humanidades sofra da crescente diminuição de atenção dos Estados em crise financeira e económica mundial, que não será melhorada se a intervenção de líderes políticos mundiais continuar a ignorar que a sua função é implementar a justiça e a paz, e não a desordem mundial, como está a acontecer no caso de Jerusalém. Neste caso da iniciativa da Casa de Trás-os-Montes espero que sirva de incitamento para iniciativas semelhantes noutras regiões, para que se afirme sem falhas a convicção de que o amor à Pátria não é dependente do benefício de inventário que acompanha as heranças patrimoniais, mas sim do contributo para a efetivação do “mundo único”, isto é, sem guerras, e para a “terra casa comum dos homens”, isto é, todos solidários sem diferenças de etnia, de cultura, ou de religião.

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