A opinião de ...

OUSAR. TRABALHAR. CONFIAR

Depois do erguer da taça para saudar o novo ano e do desmanchar do presépio, é tempo de renovar energias e enfrentar 2017 com confiança. Há razões objetivas para os portugueses encararem o futuro com um pouco mais de otimismo. É isso, aliás, que os estudos de opinião revelam. Os níveis de confiança e autoestima são agora mais elevados que há um ano. E por que carga de água não havemos de confiar nas nossas capacidades?
Com este sol de inverno, que as alteraçãoes climáticas nos obrigam a pagar cada vez mais caro, entre a vontade de transmigrar e o desejo de me entregar ao ócio num tempo de ninguém, opto por fazer uma espécie de balanço do ano que terminou. Balanço objetivamente positivo.
Passada a surpresa inicial e decorrido mais de um ano de vida do governo socialista apoiado pelos partidos de esquerda com representação parlamentar, muitos dos que antes estranharam a “geringonça” rendem-se perante os resultados. Até parecem fazer jus ao que, em 1734, escreveu António José da Silva, em Esopaida: “agora sei que tem bom gosto, pois só o nome Geringonça faz apetite para se querer”. E a avaliar pelas sondagens, a base de apoio inicial vai-se alargando de forma consistente. Há problemas? Há, muitos. E talvez os mais graves sejam os que resultam da nossa dependência externa - da União Europeia, do BCE, dos investidores, dos ditos mercados, do mundo – et pour cause, a sua resolução depende mais da vontade alheia que da nossa.
O mundo está cada vez mais problemático e imprevisível. Já não estava confiável. Com a eleição de Trump ficou bastante pior. A Europa está cada vez menos unida e moderada. Com o Brexit mais desunida ficou. Neste contexto de incerteza e de ameaças várias, Portugal é já apontado como o bom exemplo. País seguro e acolhedor, com um governo de esquerda que aumentou o rendimento das famílias sem por em causa o cumprimento dos compromissos de pertença à zona euro, o nosso país é olhado como uma espécie de oásis.
Quem ler a imprensa estrangeira de referência percebe que a estupefação inicial perante a inusitada solução governativa cedeu lugar à admiração. A imagem externa de Portugal está em alta.  Recentemente, o insuspeito Financial Times reconheceu que a solução governativa em Portugal “superou todas as expetativas”. E, a propósito da redução do desemprego, concluiu que “nem mesmo a pressão da esquerda para reestruturar a dívida ou endurecer as leis laborais tem assustado as grandes companhias estrangeiras incluindo a Volkswagen, a Continental e a Bosch, que aumentaram o seu investimento”. Anteriormente, já o El País havia sublinhado “a espetacular melhoria de Portugal” nos testes PISA e também nos indicadores TIMSS, dizendo mesmo que foi o país que “mais melhorou nestas décadas”. Ou seja, Portugal “deixou de ocupar o penúltimo lugar de todos os países analisados para ser o 13º de 49, muito distante, por exemplo de Espanha”.
Para não ser acusada de otimista irritante, não me atrevo a dizer que conseguimos mais do que alguma vez poderíamos ter sonhado. Mas, conquistada a paz social e alcançados alguns ganhos económicos, até conseguimos ganhar o europeu de futebol e eleger António Guterres para Secretário-geral das Nações Unidas. Poderíamos desejar mais? Podíamos, mas de alcance irrealista. Vamos, então, trabalhar para que 2017 supere 2016.

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