A opinião de ...

MÉS QUE UN CLUB

“Més que un club” (Mais que um clube) é talvez o maior e mais carismático lema do Futebol Clube de Barcelona e foi proferida por Narciso de Carreras Viteras (1905-1991) quando foi, fugazmente, seu Presidente (entre 1968 e 1969). Define não só a adesão popular ao brilhante clube catalão, mas igualmente caracteriza a ação social da agremiação desportiva que vai muito para além do clube de futebol e das restantes atividades diretamente ligadas ao desporto. Narciso Carreras foi também presidente da Fundação La Caixa proprietária do Caixa Bank e do BPI, para além de outros interesses em setores poderosos e pujantes da atividade económica ibérica bem como de participações em empresas estrangeiras, espalhadas por todo o mundo, desde a China ao México, passando pelo Brasil. Foi por isso com alguma naturalidade que um alto responsável da maior fundação ibérica (terceira a nível mundial atrás da americana Bill & Melinda Gates e da britânica Welcome Trust) adotou o lema futebolístico para caracterizar a instituição, na sua entrada em Portugal: Més que un banc.
 
Conhecida a vocação mundial da La Caixa a sua entrada em Portugal está ligada ao controle do BPI que ocorreu durante o ano passado. Tal foi, “informalmente” anunciado por Artur Santos Silva a amigos e antigos colaboradores por ocasião da OPA que trouxe os catalães para o controlo da instituição financeira criada, gerida e presidida pelo banqueiro portuense. Santos Silva vai liderar a instituição em Portugal que, para lá da sua atuação ao nível da gestão das suas participações no negócio bancário, irá dedicar um orçamento inicial de cinquenta milhões de euros, concretizando pois a sua devisa de ser muito mais que um banco. O nível de atividade vai colocá-la entre as três maiores instituições a atuarem na área da filantropia e desenvolvimento, no nosso país. A mão de Artur Santos Silva é já visível na definição dos eixos de atuação: Ciência, Saúde, Emprego e Fronteiras. Todas elas com claro interesse e cabimento na nossa região. Não esqueçamos que está em Bragança o melhor Instituto Politécnico do país e que tem já créditos firmados na área da investigação, não deixando de ser certo que, neste campo haverá seguramente forte concorrência a nível nacional (que se concretizará, seguramente, a avaliar pela participação no ato formal de apresentação ocorrido recentemente). Na Saúde vai haver uma dedicação especial no apoio material e espiritual a pessoas com doenças terminais e com cobertura nacional. De grande interesse, mas com dificuldade de aceder aos lugares elegíveis. Relevo terá a ação dedicada ao Emprego. Contudo nestes primeiros tempos este programa dedicado à promoção do emprego para pessoas em risco de exclusão vai ser confinado a Lisboa, Porto e Coimbra. A seu tempo se expandirá para o resto do território. O mais importante para a nossa região é a atividade que ocorrerá sob a designação de Fronteiras. Neste âmbito serão apoiados projetos de desenvolvimento nas zonas interiores, fronteiriças com Espanha. Independentemente dos valores que as primeiras ações possam vir a receber será de grande importância marcar, desde logo, uma posição relevante para futuros apoios mais sólidos e generosos. E será a oportunidade para as forças vivas da região mostrarem a sua valia, numa altura em que o Portugal 2020 começa a fazer a última reprogramação e que se adivinha que o programa europeu 2030 previligiará outras ações e comparticipações como já se percebeu que é e será, cada vez mais, a direção preferencial para os apoios europeus.
 
Seria bom que os responsáveis regionais a quem este tema interesse, começassem já a preparar candidaturas e arregimentar apoios. Apoios para elaborar candidaturas de qualidade e portanto, ganhadoras, de per si.

Edição
3668

Assinaturas MDB