A opinião de ...

Assim não, Senhor Ministro!

Uma conversa particular entre ministros que comemoravam a festa de natal foi notícia por um ministro ter comparado a concertação social a uma feira de gado. Um jornalista que passeava por perto ouviu a conversa e logo pensou na notícia “bombástica” que iria ridicularizar a imagem do ministro que cometeu a ousadia de comparar a negociação entre trabalhadores e patrões a uma feira de gado. Os ministros conversavam em privado depois de se ter conseguido um acordo sobre a subida do Salário Mínimo Nacional, o que é normal entre os ministros. O jornalista surrateiramente, pirateou aquela conversa e correu para a redacção do jornal como se fosse portador de um troféu, sabendo que o tinha conseguido à traição sem o mínimo respeito pelas regras de captação de sons e imagens. O jornalista violou a privacidade do senhor ministro. Os ministros, como quaisquer cidadãos, nas suas tertúlias podem divertir-se, contar anedotas e desde que tudo seja em privado, tudo tem de permanecer e morrer no sítio onde aconteceu. Bem diferente é o comportamento de um ministro que no Facebook ameaça dar umas bofetadas em alguém ou que faz certas caretas na Asembleia da República, e jamais o deveria fazer, porque tais actos foram praticados em público ou de acesso do público, (como acontece nas redes sociais).
Esse ministro que comparou as negociações da concertação social entre representantes de trabalhadores e patrões a uma feira de gado, logo que teve conhecimento da publicação da conversa, apressou-se a vir a público humildemente pedir desculpa pela infeliz comparação que fez. A esse senhor ministro, tenho de lhe dizer que fez mal, mesmo muito mal e não aceito que apresente o seu humilde pedido de desculpas: o senhor ministro está a pedir perdão a um delinquente que acabou de cometer um acto fraudolento; o jornalista pirateou uma conversa privada e ao publicá-la teve um comportamento abjecto e merecedor de um rigoroso castigo. Entre ministros, como entre quaisquer cidadãos, haverá sempre inconfidências, intrigas, propostas jocosas, piadas e desavenças que acidentalmente serão escutadas por jornalistas. Se o jornalista não tem a noção do que é publicitar um conversa do foro privado, uma brincadeira entre amigos, sem qualquer interesse para o público (leitor) é como o lavrador que não sabe “distinguir o trigo do joio”, e como tal, tem de procurar exercer outra actividade. Em todas as profissões há limites, princípios éticos e linhas que não podem ser pisadas.
Era o que faltava ter de pedir desculpas ao criminoso que nos ataca. Não, mil vezes não, senhor ministro. Por vezes, temos de ser fiéis aos nossos princípios e intransigentes na defesa dos nossos direitos. A cidadania é, antes de mais, o pleno exercício dos nossos direitos; em circunstância alguma a nossa vida privada pode ser devassada. Não me atrevo a dizer ao senhor ministro que deveria obrigar o tal jornalista a prestar contas em tribunal; mas, se com toda a legitimidade optasse por essa via, para o que havia fundamento legal, o senhor ministro dava um sinal público de exercício da cidadania e de que com a vida privada de qualquer cidadão não se brinca.
Amigo leitor, é normal que fique indignado com a comparação que o senhor ministro fez e com a atitude do jornalista cujo intutito foi incendiar a comunicação social e as redes sociais. A cidadania é uma grande esfera aglutinadora de princípios orientadores da vida do homem em sociedade que rola perdida nos labirintos do direito, da lei, da legitimidade, da axiologia, da deontologia, da moral e da ética. O direito à privacidade é um bem que não admite qualquer abuso.

Edição
3611

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