A opinião de ...

Rota do Leite e do Sal…

Em Portugal, nesta ocidental praia lusitana, existem tesouros espalhados ao longo de todo o território. Agora, comigo ao leme de mim, no barco da vida, dependendo apenas da saúde, sugo o respirar, snifo as coisas simples, as que estão no virar da esquina, esperando-nos, sempre disponíveis para quem aparece.
Ao reler a extasiante entrevista a Sobrinho Simões, acompanhei-o no pensamento, sim, o nascer do primeiro neto é sinal do aproximar. Tal como ele, num destino, fujo da sensação de que talvez seja a última vez que ali vou.
Estava planeado, em 2018 seria Aveiro. Uma vez por ano, juntamo-nos à conquista de um lugar, para o conhecer mesmo, desfrutar, aprender, partilhar, sorrir com vontade. Amiga atenta, amiga generosa e por inteiro, agradecidos mesmo, aconselhou visita à História, a uma joia encastrada no tempo, onde brilha: a ciência, a Família, o belo e o desprendimento.
Fomos ver o lar, o ninho, o berço de um laureado português, prémio Nobel da Ciência Médica, Egas Moniz, autor da Angiografia Cerebral e da Leucotomia Pré-frontal hoje travestida pelo natural avanço do conhecimento. A moradia reconstruída sobre os escombros da Casa do Marinheiro é hino à arte Nova adaptada ao viver autêntico em sítios de lavoura e verdura. Observar o requinte do gosto, da mais fina porcelana à robusta Faiança, da requintada prata ao cintilante cristal, da mais soberba pintura ao melhor design mobiliário é viajar no túnel dos tempos. Induzir daquele espaço  o cientista no laboratório, adivinhar o lazer e o ócio, sentir o conforto, misturarmo-nos na intimidade de um Homem Grande, foi oferta selada com gratidão. O meio-ambiente impôs ação e Egas Moniz, multifacetado, funda a Sociedade de Produtos Lácteos, inventora do leite em pó simples mais tarde adquirida pela Nestlé que entra em Portugal com esta compra. Hoje a Nestlé Portugal, indústria do leite e derivados, tem no seu portfólio as marcas do imaginário: Rajá, Maggi, Nescafé, Tofa, Casa Cristina, Águas Pisões, Longa Vida que chegam até nós vestidas de roupagens adequadas aos novos tempos. Ele testamentou, a esposa sobrevinda executou, a Casa Museu Egas Moniz e todo o recheio, incluindo o da residência de Lisboa foi doada ao Município de nascimento, Estarreja, desprendimento absoluto.
Dali seguimos para Aveiro, cidade plana, onde a Ria se infiltra, arejando todos os becos e vielas, refresca o viver, ondula o sono nas noites de quietude.
As cores da azulejaria exposta em permanência nos frontais residenciais que resistem ao tempo e ganância de vindouros insensíveis, fazem de Aveiro a cidade colorida que ao longe se adivinha. Os desempregados Moliceiros, deslizando em constância em todos os canais, os apetitosos restaurantes, o sossego das ruas no entardecer, a azáfama do lazer moderno, as águas que nos levam à lendária Veneza, o Sal que nos alimenta, são convite à demanda. Os edifícios Arte Nova são Postais Ilustrados que se impõem fixando o olhar do mais distraído caminhante. Para todos os sentidos é reconfortante a omnipresença do mar.
Ali, a dois palmos do querer, Avanca e Aveiro, nos caminhos da mais pura Rota do Leite e do Sal… 
 
 

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