A opinião de ...

Vacas Sagradas…

Daqui, numa manhã enevoada em Trás-os-Montes, perante um verde viçoso e pujante que inebria, aconchegado no lar, vislumbrando através de janela solarenga, contemplo o que a natureza me oferece neste dia de Natal. Estar vivo é uma bênção, gozar o ambiente é sublimação.
Cada um tem cor preferida, há-as para todos os gostos, o verde mexe comigo, o Douro-Litoral aonde gritei para o mundo colou-me um ADN, reconheço-o nestas bandas, encontro todas as cores nestes multiverdes que me acalmam. A noite já lá vai, os risos infantis no rasgar de prendas já os embalei no baú do recordar e, no sossego do quarto, penso no Estadista Mário Soares, talvez o único português digno desse título, a História escrevê-lo-á. Utilizando o espelho retrovisor oferenda do Costa, percorro o tempo desde as calças boca-de-sino, desde os rebeldes cabelos à beatle, tento fazer o Balanço entre o sonho e a realidade.
Certo que o politico traça o rumo, decide, escreve a História pois que as opções são escolhas dolorosas entre diferentes vias, mas serão os executantes, em nosso nome, os responsáveis do êxito ou fracasso das mesmas. A desgraça portuguesa, da era euro, são precisamente as escolhas, a tomada de posse, o miserável compadrio e a teia interesseira que nos enredou e atirou para o caixote do lixo a dignidade da maioria dos cidadãos que somos.
Eram muito novos, as caras eram sadias e inspiradoras de confiança, saídos das universidades do velho regime que repudiam, instalaram-se até hoje nas cadeiras que dão poder, nos cadeirões que deixam governar, onde é suposto levar a bom porto as decisões dos políticos que traçaram o rumo, que assumiram para a História, que decidiram, tal como Mário Soares.
Estiveram e estão em todas as áreas, são especialistas de tudo, desde a banca à saúde, passando pela electricidade, comunicações, energias, cimenteiras, economia, finanças, ministérios de toda a ordem, são produto único, talvez de escolha divina.
Eles mesmo, todos juntos, trouxeram-nos até aqui, ao desespero, ao baixar de braços, exaustos e descrentes. Desde Abril que os nomes enchem os Telejornais, são capas de revistas e primeiras linhas de fóruns nacionais, foram envelhecendo com ares altivos, de estudado respeito, encapsulados em vestimenta distinguível, ditando soluções para os desastres que eles mesmo provocaram.
Atrevem-se, que despudor, a opinar nas escolhas de nomes no assumir de cargos de topo, ditam que a juventude é factor negativo, eles que nos acompanham desde a reforma Veiga Simão, desde os púberes pêlos.
Não, nada tiveram a ver com a desgraça que nos atormenta, o desastre financeiro da miserável banca ladroeira, das bolhas imobiliárias, da falência da segurança social, da Saúde fraca, da Educação coxa, da miséria que se agiganta, tudo isso é culpa de outros, nunca deles que se governaram, comodamente sentados nos cadeirões da governança.
Olho para o presépio e observo as figuras que simbolizam o afago, o afago  que nos aquece os corações. São símbolos que sobrevirão na caminhada dos tempos, planetariamente, mas aqui, no nosso Portugal, é tempo de mandarmos calar, em definitivo, para dar lugar aos jovens, estas Vacas Sagradas…

Edição
3609

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