A opinião de ...

Mulheres

1.º No dia 10 de Março – que ficará na História da nossa Democracia – fui exercer o meu direito e o meu dever na assembleia de voto da Escola Almeida Garrett, Vila Nova de Gaia. No átrio, uma exposição dos alunos encantou-me: as Mulheres Célebres que, no Mundo, em diversos tempos e latitudes, consagraram a sua vida às Ciências, Artes, Literatura. A propósito do Dia Internacional da Mulher. Encantamento meu por duas razões: (i) estavam ali patenteadas ao público votante (não apenas à comunidade escolar) algumas dezenas de fotografias e respetivas notas explicativas sobre as atividades das mulheres que têm contribuído para a igualdade de género; (ii) senti os jovens entusiasmados com assuntos que fazem parte das suas preocupações (acreditar nos jovens é um imperativo intergeracional). Só por isto, que outras razões havia, e há, valeu a pena ir “deitar” o meu voto. Entre tantas mulheres, escolhi recordar cinco, que, separadas no tempo, nos deixaram o seu legado: Florence Nightingale, Maria Lamas, Beatriz Ângelo, Frida Kahlo e Wangari Maathai. Florence Nightingale, enfermeira ítalo-inglesa, tornou-se a pioneira das reformas no internamento em enfermarias abertas e arejadas; Maria Lamas, escritora, jornalista e ativista feminista portuguesa; Beatriz Ângelo, ativista, a primeira mulher cirurgiã e a primeira mulher a votar em Portugal; Frida Kahlo, pintora mexicana conhecida pelos seus retratos, autorretratos, e obras inspiradas na natureza e artefactos; Wangari Maathai, a primeira mulher africana a vencer o prémio Nobel da Literatura. Faltava uma: Masha Amini, a jovem iraniana ativista, cujo slogan era Mulher, Vida, Liberdade, morta às mãos da polícia dos costumes do Irão.
2.º "Não deixar ninguém para trás" foi o lema inspirador da agenda do desenvolvimento sustentável acordada na Assembleia Geral das Nações Unidas, realizada em Agosto de 2023. O documento assumiu que não será possível alcançar o desenvolvimento humano se metade do mundo é ignorado. Entre esses grupos ignorados, destacam-se as mulheres, nas populações rurais e em alguns grupos étnico-raciais – sofrem na pele e na alma a dor, a fome, a pobreza, a violação. Tem razão António Guterres ao declarar, na abertura da 68ª Sessão da CSW (Comissão do Estatuto da Mulher), que muitas mulheres e meninas enfrentam uma batalha crescente pelos seus direitos fundamentais, tanto em casa quanto nas suas comunidades. Ou seja: acabar com a pobreza e investir socialmente na mulher – eis dois dos grandes desafios da Humanidade.
3.º E entre nós? O que se passa? Reflexão que fica para os leitores, acompanhada do poema de Sofia Melo Breyner que evoca o verdadeiro sentido de resiliência das Mulheres:
O mar dos meus olhos
Há mulheres que trazem o mar nos olhos
Não pela cor
Mas pela vastidão da alma

E trazem a poesia nos dedos e nos sorrisos
Ficam para além do tempo
Como se a maré nunca as levasse
Da praia onde foram felizes

Há mulheres que trazem o mar nos olhos
pela grandeza da imensidão da alma
pelo infinito modo como abarcam as coisas e os homens...
Há mulheres que são maré em noites de tardes...
e calma.» Paulo Cordeiro Salgado - 12.03.2024

Edição
3978

Assinaturas MDB