A opinião de ...

Capela de São Francisco, Sendas. “Das Chagas, uma vida nova”!

«Nasceu no mundo um sol», assim se referiu o poeta italiano Dante Alighieri a São Francisco de Assis, o «alter Christus», para o Papa Bento XVI. Criador da Ordem dos Frades Menores Franciscanos, este «irmão» de Jesus trocou a proveitosa vida de tecelão pela penitência das pobres vestes dos pastores e a glória de uma carreira militar pela bondade para com os desafortunados da vida. Fez votos de pobreza e pregou e viveu conforme a doutrina do Mestre, sendo muito escutado e venerado. Um exemplo de santidade, a quem Nosso Senhor estigmatizou no Monte La Verna, há precisamente 800 anos. De acordo com a tradição, o vol. I da «História Seráfica» de frei Manoel da Esperança (1656) e as «Memórias de Bragança» de José Cardoso Borges (1721-24), a que o padre Bartolomeu Ribeiro deu seguimento em 1952, São Francisco de Assis passou por Bragança. Decorrente da tentativa de evangelizar os mouros de Marrocos, peregrinou a Santiago de Compostela, onde teve uma visão que o impeliu a levantar conventos, e dali dirigiu-se para Bragança com alguns irmãos, em trânsito para a península Itálica. Na vila nordestina foi acolhido com entusiasmo e devoção, sendo exortado à edificação de um convento. Disponibilizaram-se serviços, dádivas e um terreno fora das muralhas do castelo, junto das populações residentes e próximo de fonte de água. Estava-se em 1214 e, antes de regressar a Assis, deixou ficar irmãos para darem seguimento às pretensões brigantinas. A ser verdade este acontecimento, apenas cinco anos após a criação da Ordem, o Convento de Bragança seria o mais antigo dos franciscanos erguidos em Portugal. Com a distinção de ter contado com a presença do próprio Santo. Mas estudiosos como o Abade de Baçal colocam em causa a ocorrência nesses termos, à míngua de fonte documental coeva que o comprove. Verdade ou lenda, lembra Cardoso Borges que “a tradição nesta cidade é tão constante que ninguém se atreveria a dizer o contrário sem nota de temeridade”. Além da atual Igreja sita em Bragança, adossada ao Arquivo Distrital e antigo espaço conventual, «a presença» de São Francisco no concelho só é verificável em Sendas, através de Capela que lhe é dedicada. Situada no extremo Sul da aldeia, sabemos da sua existência pelo menos desde as «Memórias Paroquiais de 1758». Uma pequena capela de configuração quadrangular, recentemente restaurada, com um magnífico retábulo a remeter para a datação referida, a merecer intervenção premente. Tem, portal reto simples, campanário de sineira única com cruz latina, ladeada por pináculos balaustrados, e janela em capialço a dar luz para o altar. Altar é em madeira a castanho, decoração em talha policromada e abundantes concheados dourados. A mesa, tipo urna, tem frontal desenhado a azul e branco na parte inferior, com cruz latina vermelha e resplendor sobre castiçal, relevados, e cartela de tímpano vermelho no superior. O retábulo, de três eixos, é em estilo rocaille. O nicho central de moldura recortada em arco de volta perfeita, acolhe a imagem do Orago São Francisco, sobre mísula de decoração relevada. Apresenta-se com hábito de cor marrom, ou a simplicidade funcional de quem fazia do chão o leito, bordado a dourado, como o cíngulo. Está descalço, fazendo jus à pobreza da Ordem, segurando com ambas as mãos o crucifixo. Os eixos laterais são definidos por colunas de fuste azul e concheado dourado ao centro, base anelar e capitel a remeter para o coríntio, assentes em plintos tipo banqueta. Sobre idênticas mísulas constam as imagens dos Apóstolos São Pedro e São Paulo, do lado do evangelho e da epístola, respetivamente, sob dossel à base de acantos enrolados. Paramentam hábito em azul-esverdeado e túnica da cor do martírio. São Pedro tem as chaves do Céu e da Terra na mão direita e a Sagrada Escritura na esquerda. São Paulo tinha a espada do martírio na mão direita e igualmente a Sagrada Escritura na esquerda. Aventa-se que as imagens vieram da Igreja matriz de Sendas, onde São Pedro é padroeiro. O entablamento do retábulo é feito por cornijas e o ático, de contornos aproximados ao frontal da mesa do altar, tem cartela central vermelho em forma de coração. “Paz e Bem”!

Retabulo

S. Francisco

Edição
3986

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