Bragança - Entrevista com Eleutério Alves

“Vamos criar 100 postos de trabalho”

Publicado por António G. Rodrigues em Seg, 2013-07-15 12:56

A Santa Casa da Misericórdia de Bragança cumpriu 495 anos ao serviço da comunidade. Tempo para um balanço com o Provedor da instituição, Eleutério Alves. Ao Mensageiro, fala sobre o passado, o presente e o futuro da Santa Casa no concelho, abrindo boas perspetivas.
Ao fim de quase meio milénio de história na região, a Santa Casa da Misericórdia de Bragança assume-se como uma das instituições mais importantes do concelho.

Mensageiro de Bragança: Que balanço faz destes 495 anos da Santa Casa da Misericórdia de Bragança?
Eleutério Alves: De facto, quando falamos em 495 anos, estamos a considerar como exata a criação da Misericórdia em 1518. Embora haja já artigos que nos diziam que em 1516 já havia uma irmandade da Misericórdia em Bragança, embora o alvará régio tenha sido apenas concedido em 1518. Estamos a considerar essa como a data da constituição, daí estarmos a festejar os 495 anos da instituição. A história da Misericórdia é grande, é longa e é rica. Teve bons momentos, maus momentos mas, o que é certo, é que homens bons a trouxeram até hoje. Nunca teve nenhum período morto, esteve sempre ativa. Terá sido constituída para trabalhar na área da saúde, através de caridade, de prestar cuidados de saúde àqueles que os necessitavam. Dar a sopa aos pobres já é do nosso tempo. Muitos de nós nos lembramos de a Misericórdia ter um espaço onde os pobres iam comer a sua sopa. Atualmente, a Misericórdia, com o peso que tem e a realidade que lhe conhecemos, significa que foi bem conduzida até esta data. Esperemos que daqui para a frente outros homens bons e outros cidadãos de qualidade consigam levá-la pelo futuro.

MB.: Qual é o ponto da situação da instituição atualmente?
EA.: Esta instituição tem 250 trabalhadores. Temos praticamente todas as valências da área social e muitas da área da saúde. Prestamos serviços a 950 utentes por dia. O nosso orçamento de funcionamento ultrapassa os cinco milhões de euros. É uma realidade interessante, que é conhecida e notada pela comunidade. Neste momento, a Misericórdia injeta nas contas dos trabalhadores cerca de 2,5 milhões de euros por ano. Ou seja, é um bom contributo para a economia da região.

MB.: Para além desse contributo direto, há todo o restante feito de forma indireta...
EA.: Também temos a montante uma rede de prestação de serviços à instituição que, se a Misericórdia não existisse, ela também não existia. Somos consumidores de muitos setores da economia local. Nota-se que é bom e dinâmico para a nossa comunidade.

MB.: Fazem questão de contratar serviços só da região?
EA.: Por princípio, só contratamos bens e serviços dentro do nosso concelho ou do nosso distrito no máximo. Entendemos que a Misericórdia deve assumir-se como uma âncora de sustentabilidade económica da região e deve contribuir para o seu dinamismo e só o faz se formos os consumidores dos bens que aqui se produzem e que aqui se transacionam.

MB.: Em termos de perspetivas de futuro, quais serão os grandes desafios que a instituição vai enfrentar a partir de agora?
EA.: Como qualquer outra instituição, também temos alguns constrangimentos. Fomos confrontados, nos últimos anos, com a quebra de frequência de algumas valências. Dou o exemplo do caso do pré-escolar, em que tem havido a diminuição da frequência de crianças, embora, na parte da creche, tenha havido algum aumento. Fruto da constituição dos centros escolares, muitas crianças que frequentavam os nossos jardins e a nossa escola do ensino básico passaram para os centros escolares. Mais baratos e com uma qualidade idêntica à nossa. A crise chega a todos e as famílias, se tiverem o mesmo serviço mais barato optam por ele.

MB.: Tem sentido um aumento dos pedidos de ajuda à instituição?
EA.: Sim, mas também temos sentido uma dificuldade de as famílias suportarem os custos que o apoio nos exige. A crise chegou a toda a parte. Hoje vemos muita gente desempregada, muitas famílias desempregadas que não podem pagar as comparticipações dos seus familiares. O acordo que temos com a Segurança Social transfere para a nossa instituição cerca de 1,3 milhões de euros por ano. Temos uma despesa de cinco milhões de euros por ano com os serviços que prestamos. Ou seja, 40 por cento é comparticipado pela Segurança Social. O restante, que são mais de três milhões, têm de ser garantidos pela Santa Casa da Misericórdia de Bragança. As fontes de financiamento são poucas e as famílias têm de pagar do seu orçamento familiar – os donativos, legados, herança, hoje praticamente não existem.

MB.: Como vê o futuro?      
EA.: Nos próximos anos, o que queremos é sustentar tudo o que estamos a criar de novo. E há condições para que os investimentos que estão a ser ultimados funcionem de forma correta, interessante, com qualidade, garantindo um bom serviço e, ao mesmo tempo, garantir a sustentabilidade financeira da instituição. Não temos problemas nesta altura e acreditamos, até, que num futuro próximo, com estes equipamentos, vamos melhorar. Os irmãos da Santa Casa da Misericórdia de Bragança devem estar satisfeitos com a instituiçãos e a comunidade deve ter esperança que vamos continuar a servir os interesses da população.
 
“Vamos criar 100 postos de trabalho”
 
MB.: O Centro de Educação Especial vai ficar a cargo da Santa Casa da Misericórdia de Bragança?
EA.: Tudo indica que sim. Está já tudo acordado com o Ministério da Segurança Social e se não houver nada que o perturbe, a Santa Casa da Misericórdia de Bragança ficará, já no imediato, com o acordo de gestão do CEE, que é uma valência que não tínhamos, apesar de prestarmos apoio a muitos cidadãos na área da deficiência. Vamos geri-lo de uma forma diferente. Pô-lo ao serviço da população e dos utentes 24 horas por dia, 365 dias por ano. Acredito que vai ser uma mais-valia para a cidade e para o distrito.

MB.: Vai implicar mais investimento?
EA.: O CEE já está a ser objeto de obras de conservação e acredito que nos próximos dois meses estarão concluídas. Mas vai permitir cerca de 50 postos de trabalho, o que já é muito bom, juntamente com outros 50 que a Unidade de Cuidados Continuados vai criar. Estamos a falar, no ano de 2014, mais de cem postos de trabalho diretos que a Santa Casa da Misericórdia de Bragança vai criar no concelho. Esta é, de facto, uma das formas que temos para dinamizar a economia local.

MB.: Vai haver alguma reformulação das ofertas por parte da Santa Casa devido à perda de utilizadores de algumas valências?
EA.: Estamos a re-equacionar a criação de mais vagas na creche, diminuindo algumas vagas no pré-escolar. Na parte de apoio domiciliário tem havido uma procura bastante grande e vai continuar a haver. Na parte de lar de idosos também se tem mantido a procura. Por isso, estas [valências] não estão a sofrer grande perturbação com a crise. Mas a comparticipação das famílias baixou muito e isso traz custos à Misericórdia porque, para manter a mesma qualidade dos serviços, tem os mesmos custos para menos receita.

MB.: Têm lista de espera?
EA.: Sim, ao nível de lares continuamos a ter lista de espera. Sempre que há uma vaga, é imediatamente preenchida. A nível de apoio domiciliário não temos porque estamos já a prestar serviço a mais pessoas que aquelas que temos no protocolo com a Segurança Social.
MB.: Como tem sido a parceria com as instituições da região? A solidariedade funciona?
EA.: Tanto a cidade como o concelho de Bragança estão bem servidos a nível de Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS). Entre elas há uma solidariedade bastante grande. Não há concorrência, antes pelo contrário, há uma parceria forte. Estamos todos a trabalhar para o mesmo objetivo que é o de garantir qualidade de vida às pessoas do concelho. Temos as melhores relações entre todos. A Misericórdiade Bragança disponibiliza meios e recursos humanos para apoio a outras instituições se o necessitarem. Como nós, quando necessitamos de apoio de alguma instituição nalguma área, também o solicitamos. Ainda agora, na semana de aniversário da Santa Casa, tivemos equipamento cedido pelas instituições, gratuitamente.
MB.: E em termos de instituições governativas?
EA.: Há de tudo. Temos um bom parceiro, que é a Câmara Municipal, que tem uma política social autárquica interessante e que dá um apoio grande às instituições. Também temos na Segurança Social um bom parceiro. Agora, com a nova direção, está, de facto, mais parceira, mais colaborante, mais reconhecida ao trabalho que se faz nas IPSS. Na parte da saúde não estamos tão bem. Era necessária uma aproximação maior, assim como mais reconhecimento por aquilo que podemos fazer como parceiros e do apoio que podemos dar à ULS no sentido de ela própria desenvolver os seus objetivos com menos custos e mais qualidade. Espero que a ULS perceba isso. Da parte do emprego temos tido boa colaboração. Digamos que as relações institucionais são boas.
 
(Entrevista completa disponível para utilizadores registados)

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