A opinião de ...

A VÍTIMA

Quando redijo este texto não aconteceu ainda o mais importante dos debates entre os líderes do PS e da AD que poderá condicionar o resultado das próximas eleições e, só por isso, a performance de cada um dos contendores será de enorme relevo para o saldo final da prestação de cada um. Porém, nesta altura, é óbvio, para qualquer observador, minimamente isento, que a grande revelação dos atuais debates é Luís Montenegro. Mesmo levando em devida conta o inexplicável silêncio no debate com o líder comunista. É bem provável que esta surpresa, pela positiva, beneficie da forma como a comunicação social o vinha tratando acusando-o de cinzentismo básico sem capacidade de entusiasmar nem fazer o seu partido descolar, nas sondagens. Tudo isso se inverteu a partir dos debates pese embora a injustificável tentativa de se fazer representar por Nuno Melo em dois deles. O líder da AD esteve bem em todos os confrontos televisivos, até agora mas, no meu entender, destacou-se no embate de Domingo Gordo, com Inês Sousa Real, sob a moderação de Clara de Sousa. Sem questionar ou minimizar os argumentos da Porta-Voz do PAN, não deixou de acusar a sua interlocutora de exagerar na forma como se queixava das interrupções de Montenegro atribuindo-as a um suposto machismo. “Não se vitimize assim, não lhe fica bem. Não lhe fica bem usar a sua condição de mulher para se vitimizar.”
Desde o célebre episódio da Marinha Grande que é público e sabido por toda a classe política que a condição de vítima é preciosa e rende votos… desde que justa e genuína! Fez bem o Presidente do PSD em desmascarar o truque baixo e desleal de Sousa Real.
Posto isto, desafio o leitor a imaginar o que diria Luís Montenegro de um candidato que, não nas hostes opositoras, mas numa das listas que patrocina forçasse ainda mais esta situação e saltando o muro da transparência (tão relevante em política) se acachapa, com estrondo e ruído no lajedo das vítimas, autocruxificado alegando estar a ser vítima de forças obscuras e sinistras bem conhecidas, segundo o próprio, apesar de não dar qualquer pista para a sua identificação.
Não basta classificar de “vil” o exercício do escrutínio natural da comunicação social sobre a atuação dos eleitos locais quando notícias vindas a público e não desmentidas cabalmente apontam para riscos de consumo de água da rede pública por parte de três localidades de uma determinada freguesia. Se esse risco existe, não o assumir é cobardia. Se não existe e tudo não passa de caluniosa efabulação encomendada por entidades bem identificadas e conhecidas por quem publicamente as denuncia, então, não há como não atuar em conformidade: apresentar junto das autoridades respetivas uma queixa e mover um processo crime contra quem pretendendo defender os consumidores, afinal quer atacar determinadas entidades e condicionar o próximo ato eleitoral.
Independentemente das análises e classificações que cada um, a seu jeito e conveniência possa fazer sobre a reportagem vinda a público, na TVI, sobre as condições de fornecimento de água às gentes de Felgar, Souto da Velha e Carvalhal, há algo que, sendo factual, dificilmente pode ser entendido de maneira diversa, queira ou não: a associação entre essa circunstância e a investigação do caso gota de água não foi feita pela jornalista mas pelo Tribunal quando recusou uma providência cautelar baseando-se nas análises de um laboratório que, segundo o Ministério Público… não serão de fiar!

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