Editorial - António Gonçalves Rodrigues

Combater a inflação

É dos livros. Perante uma situação de inflação (subida de preços que acaba por cortar no poder de compra), sobem-se as taxas de juro de forma a arrefecer a procura. Tendo por base a lei da oferta e da procura, havendo menos vontade de consumir, os preços tenderão a baixar, do mesmo modo que quando a procura é alta, os preços sobem.
Isso é o normal.
O que não é normal é a causa desta inflação que, com o tradicional remédio, vai provocar a tempestade perfeita para as famílias, sobretudo dos países mais remediados, como é o caso de Portugal.


Não havia necessidade...

Findo, felizmente, o período de incêndios, antes do final de agosto, o país viveu em suspenso, nas última semanas, salivando pelo anúncio prometido de medidas contra a inflação.
Finalmente, na segunda-feira à noite, fazendo concorrência a uma importante entrevista com o Papa Francisco conseguida pela CNN Portugal, o Primeiro-Ministro lá fez o anúncio, com pompa e circunstância.
E aquilo que foi possível constatar é que, em política, o aparato substitui, cada vez mais, a substência.


Baralhar e dar de novo para ficar tudo na mesma

A demissão de Marta Temido do cargo de Ministra da Saúde dominou a atualidade desta semana. As televisões dedicaram horas a fio à análise da saída do Governo da Ministra que esteve mais em foco durante os dois primeiros anos de pandemia.
Mas, a conclusão mais óbvia que se pode tirar é que aquilo que vai acontecer é o chamado baralhar, dar de novo mas para ficar tudo na mesma.
Ao longo dos últimos anos e Governos, os titulares da pasta da saúde, uma das mais fundamentais de qualquer país, têm-se sucedido no cargo sem uma verdadeira mudança do ponto de situação no setor.


O futuro planeia-se no presente

Em 1943, o Mensageiro de Bragança trazia à estampa notícias daquela que seria considerada a maior seca do século XX no Nordeste Transmontano. Durante dois anos, a região enfrentou vários problemas com a escassez de chuva que deixou os agricultores à beira do desespero.
Numa região em que praticamente todas as pessoas têm pelo menos uma hortinha no quintal e em que muita gente cultiva de forma um pouco mais intensa os terrenos que ainda vai tendo na aldeia, percebe-se como a falta de água afeta a generalidade da população.


A covid-19 não desapareceu

Desde 24 de fevereiro que a pandemia de covid-19 praticamente foi erradicada dos noticiários televisivos, radiofónicos e impressos.
A invasão da Ucrânia pela Rússia, primeiro, os problemas económicos que conduziram à inflação, a seguir, e a seca, nas últimas semanas, a que se seguiu o flagelo dos incêndios.
Assuntos que se tornaram dominantes depois de quase dois anos e meio em que a pandemia monopolizou a atualidade, levando, muitas vezes, à exaustão do tema e dos cidadãos.
As pessoas cansaram-se de ouvir falar em vacinas e comportamentos preventivos.


Os exemplos da sociedade

A sociedade atual está cada vez mais refém do egocentrismo e ausente de valores como a entreajuda ou o espírito comunitário.
Ainda no sábado, na recriação da segada manual na Lombada, em Bragança, Raúl Tomé, professor, responsável pelo festival de música e tradição, lamentava que o espírito de entreajuda comunitária que se vivia nesta região há 50 anos se tenha perdido com a espuma dos dias.
Nessa altura, o povo todo esperava que toda a gente acabasse a sua segada para, então, se fazer a malha. E se alguém tivesse algum problema, os outros iam ajudar.


O que fazer para chegar aos fundos do poço?

Há quem diga que os Fundos Comunitários são um poço sem fundo mas a verdade é que representam praticamente a única capacidade de investimento à disposição de Governo, cidadãos e empresários nos próximos anos.
Com uma grande parte do dinheiro dos impostos pagos pelos portugueses sorvidos pelo custo da dívida pública, que representa mais de 120 por cento de toda a riqueza produzida no país, torna-se ainda mais preponderante saber bem o que fazer com aquilo que o poço dos fundos disponibiliza.


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