A opinião de ...

O «Monte» de Rio está «Negro»?

As duas últimas semanas foram agitadas quanto baste. Populismo de todos os lados, desde o PR ao Governo, eleitoralismo deste e enfrentamento no PSD. Situemo-nos no enfrentamento no PSD.
Os «santanistas» que não abandonaram o Partido e os «passistas» que se mantiveram fiéis a Passos Coelho têm duas ideias sobre Rui Rio e seus apoiantes: 1) que este não lhes dará um lugar de relevo nas listas aos próximos actos eleitorais; e, 2) que Rui Rio e seus apoiantes estão a fazer uma má oposição ao governo da «Geringonça».
Por ambas as razões, mandataram Luís Montenegro para enfrentar Rui Rio. Mimetizaram António Costa mas Rui Rio não foi, para já, António José Seguro e não abriu o caminho a eleições directas embora tenha deixado que o Conselho Nacional do PSD decida entre os dois. Só que Luís Montenegro tem outra razão para se candidatar, de natureza pessoal, escondida.
Enfrentou Rui Rio para salvar a sua pele e a dos seus amigos (parte escondida no seu discurso); para tornar o PSD uma oposição forte (parte realçada no seu discurso); e para ficar na grelha de partida como candidato a Presidente do PSD, após as eleições legislativas, afastando Fernando Negrão, os outros delfins de Passos Coelho e o próprio Passos Coelho (parte também ocultada). Ou seja, Montenegro não se candidatou por causa da má oposição de Rui Rio mas sim tirando partido da forma de oposição de Rui Rio para atingir os dois outros fins.
A candidatura de Luís Montenegro agitará o PSD. Se ganhar, contrairá responsabilidades acrescidas, para as quais não me parece preparado. Se perder, obrigará Rui Rio a fazer uma oposição diferente. Perca ou ganhe, Montenegro salvaguardará a terceira razão da sua candidatura: terá um lugar seguro entre os próximos candidatos a Presidente do PSD, após as eleições legislativas.
Rui Rio seria um excelente opositor na Alemanha ou na Áustria ou ainda nos EUA, pela sua competência técnica e pelas suas qualidades humanas. Em Portugal, porém, parece exigir-se mais que os opositores sejam trauliteiros, malabaristas, mentirosos, populistas, demagogos e apreciadores de tourada. De acordo com o paradigma da tourada, quer-se que se diga mal do Governo, de preferência com palavrões feios e tocar trombetas para entrarem em cena as bandarilhas.
Rui Rio não fez isto com António Costa e, por isso, pode ser sacrificado. Porém, devemos interrogar-nos se estes excessos de linguagem são os mais adequados a uma política sã e prossecutora dos nobres fins da política.
Rui Rio não fez alarido mas demonstrou uma enorme sensatez política que nenhum outro candidato a Primeiro-Ministro havia demonstrado antes. Não foi demagogo, não foi populista, não foi excessivo na linguagem. Além do mais, tem sido pedagógico. Ele sabe que o Governo cairá por si, vítima do seu populismo, do seu eleitoralismo e da impossibilidade de moldar a realidade em função de desejos. Por mais truques de ilusionismo que use.

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