Nordeste Transmontano

Há um prémio ibérico de arquitetura e vem para uma estudante de Bragança

Publicado por António G. Rodrigues em Seg, 2014-10-06 10:51

A emoção mal se sente na voz de Joana Gonçalves. Aos 24 anos, a timidez natural impede esta arquiteta brigantina de apreender a real dimensão do prémio que acaba de lhe ver ser atribuído. É ‘só’ uma das mais importantes distinções da arquitetura, atribuída de dois em dois anos, e que premeia apenas um trabalho de toda a península ibérica. O Prémio Ibérico de Investigação da Arquitetura Tradicional é atribuído pela Fundação António Font de Bedoya (FAF), a Fundação Convento da Orada (FCO) e a Fundação Cultural do Colégio Oficial de Arquitetos de León (FUNCOAL) e a Ordem dos Arquitetos (OA), distinguindo investigação apresentada por meio de dissertações de Mestrado e de teses de Doutoramento, na área da Arquitetura Tradicional.

Este ano concorreram 36 trabalhos e o de Joana Gonçalves foi o único escolhido para o prémio monetário de três mil euros, que será entregue na próxima terça-feira, em Lisboa.

“Para mim é importante pois concorri com investigações de doutoramento, com trabalhos mais aprofundados”, lá acabou por explicar a recém-formada arquiteta.
Joana Gonçalves estudou a ‘Tradição em Continuidade: Levantamento das Quintas da Terra Fria Transmontana e Contributos para a Sustentabilidade’. Ou seja, a forma como eram construídas as quintas no Nordeste Transmontano. “A investigação incidiu, sobretudo, no concelho de Bragança, mas foram identificadas várias noutros concelhos, como em Vinhais, por exemplo”, explicou ao Mensageiro.

Certo é que os últimos dias têm sido de grande rebuliço, com solicitações constantes da comunicação social, contrastando com o caráter tímido da arquiteta que tem, também ela, raízes numa quinta tradicional da região.

Na página na internet da organização deste prémio percebe-se a dificuldade que houve este ano para escolher um vencedor, ainda que a tese de Joana Gonçalves tenha sido distinguida por unanimidade. “Na sequência de criteriosa seleção das 36 candidaturas submetidas ao Prémio Ibérico de Investigação da Arquitetura Tradicional, foram apurados oito finalistas, dos quais foram selecionados o Prémio Ibérico 2013–2014 e duas Menções Honrosas. A avaliação considerou as investigações que melhor respondiam aos critérios de seleção definidos, nomeadamente o contributo para o conhecimento na problemática abordada; a originalidade e inovação na investigação; a fundamentação teórica através da revisão da literatura e da definição do estado da arte; a justificação assim como a qualidade das metodologias de investigação aplicadas. O elevado número de candidaturas e a qualidade geral das investigações submetidas dificultou a seleção final, da qual se destacou, por unanimidade, pela sua consistência e excelência, o Premiado desta II Edição”, lê-se, na explicação apresentada.

Para já, para além das solicitações da comunicação social, pouco muda na vida desta brigantina, de 24 anos, que atualmente reside e trabalha no Porto.
O objetivo do seu trabalho era preparar o futuro olhando para o passado, “procurando estratégias alternativas para uma arquitetura contemporânea mais sustentável, social, ambiental e economicamente que, simultaneamente, assente nos valores que identificam a comunidade”, explica.

Ao longo da investigação, que durou vários meses, assistiu, com tristeza, à degradação deste património cultural histórico, havendo mesmo alguns exemplos de quintas que acabaram por desaparecer diante dos seus olhos, dado o estado de abandono a que tinham já chegado.
 
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