Nordeste Transmontano

Casos de violência doméstica crescem em 2021 devido aos confinamentos mas número de queixas estabiliza

Publicado por António G. Rodrigues em Qui, 2022-04-14 15:30

Mais de uma centena de pessoas do distrito de Bragança foram vítimas de violência doméstica no distrito de Bragança em 2021. Grande maioria dos agressores são do sexo masculino.

Ao todo, os dados oficiais dão conta de que 108 pessoas foram vítimas de violência doméstica no distrito de Bragança em 2021.

Segundo os dados do relatório anual da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) e do Núcleo de Apoio à Vítima da Associação de Socorros Mútuos dos Artistas de Bragança, houve 108 casos reportados ao longo do ano passado a estas instituições.

À APAV foram reportados 31 casos enquanto que a Associação de Socorros Mútuos registou 77.

Teresa Fernandes, que gere o Núcleo de Apoio à Vítima de Bragança explicou ao Mensageiro que, de facto, houve “mais atendimentos mas poucos mais casos novos”.

“Todos os serviços ainda estão a recuperar da pandemia, pelo que atendimentos, apoios, tomadas de decisão têm-se prolongado no tempo. Temos de fazer mais atendimentos para prover os apoios previstos”, explicou.

Por outro lado, a incerteza provocada pela pandemia ao nível das condições de saúde e laborais leva a que a tomada de decisão de pôr fim a uma situação de violência também demore mais tempo.

“As pessoas também demoram mais tempo, têm mais preocupação no pós-saída, nos efeitos na saúde, no trabalho, na escola das crianças. Tudo isso tem afetado a tomada de decisão das vítimas”, frisou.

De acordo com Teresa Fernandes, há pessoas que recorrem à APAV “quer pela maior proximidade com o gabinete existente em Vila Real, como são os casos dos concelhos de Carrazeda de Ansiães ou de Mirandela, quer pelo facto de o número geral da APAV ser amplamente divulgado”.

Nessas situações, as duas entidades conferenciam para perceber se há duplicação de casos. Não havendo, as novas situações que chegam à APAV são seguidas por técnicos dessa associação enquanto que se já forem casos conhecidos, continuam a ser seguidos em Bragança.

Apesar de o número de denúncias novas não ter tido uma subida acentuada, Teresa Fernandes acredita que a pandemia potenciou as situações de violência doméstica, por vários fatores.

“Potenciou, sem dúvida. Mas isso não se refletiu na denúncia. O facto de as pessoas não saberem o que esperar do futuro, a incerteza que os confinamentos, os layoffs, a situação das escolas, trouxeram, levaram a uma incerteza que se refletiu na apresentação de queixas”, explicou.

Mas “o número de situações foi aumentado pelo facto de as pessoas serem obrigadas a conviver [nos confinamentos] e a desempenhar papéis a que não estavam habituados, como cuidadores, professores, prestadores de cuidados a pessoas idosas, etc”.

“Tudo isso conduziu a um aumento do número real de situações, ainda que sem reflexo no número oficial”, precisou a mesma responsável.

No entanto, a acalmia verificada na situação pandémica começa a trazer sinais desse aumento de tensão.

“Cada vez mais estamos a perceber, agora, a saída dessas relações, com acolhimentos de emergência ou em casa abrigo”, adiantou, ao Mensageiro.

 Por outro lado, o perfil das vítimas continua inalterado.

“Continuamos a ter o mesmo perfil de vítimas. Conjuges, ex-conjuges ou, no nosso caso particular, muitos descendentes. As vítimas tanto são do sexo masculino como do feminino”, frisou.

Contudo, “a violência contra idosos manteve-se nos atendimentos ou casos novos”.

“Mas tivemos mais acolhimentos de emergência. Em cinco mulheres acolhidas este ano, três são idosas, vítimas de descendentes. Estamos a falar em risco elevado para a integridade física e psíquica da vítima”, explicou Teresa Fernandes.

No caso do Núcleo de Apoio à Vítima da Associação de Socorros Mútuos, 70 dos casos são de portugueses, dois brasileiros, um angolano, um ucraniano, um sueco, um venezuelano e um peruano.

Destas 77 pessoas atendidas, 45 tinham menores a seu cargo.

Analisando os dados, nota-se, ainda, uma prevalência de baixa escolaridade.

Oito das pessoas atendidas não sabiam ler nem escrever, duas só sabiam ler ou escrever, 19 tinham concluído o primeiro ciclo, 14 o segundo ciclo, 21 pararam os seus estudos no terceiro ciclo, 11 no secundário e apenas duas tinham o ensino superior.

Também prevalecem os baixos rendimentos. Apenas uma destas 77 pessoas tinha rendimentos superiores a 1500 euros por mês.

A maioria dos agressores eram do sexo masculino (70) enquanto apenas sete do sexo feminino.

Das 77 pessoas atendidas, 11 não formalizaram denúncia.

Houve oito acolhimentos de emergência e 12 encaminhados para a casa abrigo da instituição.

 

Casos por nacionalidade:

Portuguesa     70

Angolana        1

Brasileira         2

Ucraniana       1

Sueca              1

Venezuelana   1

Peruana          1

 

Por escolaridade:

Sem saber ler nem escrever  8

Só sabem ler e escrever         2

1.º ciclo                                  19

2.º ciclo                                  14

3.º ciclo                                  21

Secundário                             11

Ensino Superior                      2

 

Vítimas seguidas pela ASMAB por concelho:

Bragança          19

Carrazeda         9

Freixo              1

Macedo            6

Vila Flor            2

Miranda           15

Mirandela        2

Mogadouro      11

Vimioso            4

Vinhais             3

Moncorvo        3

Alfândega         2

Total                78

 

 

Vítimas seguidas pela APAV, por concelho

Bragança         9

Carrazeda       2

Freixo              1

Macedo          1

Mirandela       8

Mogadouro    2

Moncorvo       1

Vila Flor          3

Vimioso           1

Vinhais            3

Total               31

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