Manuel António Gouveia

A escola ideal

Aquela professora costumava contar ou ler aos alunos pequenos contos, alguns dos quais eram comentados e outros dramatizados. Um dia, como não lhes apetecia brincar no recreio, os colegas Manuel e Maria conversavam animadamente sobre qual seria, para o Manuel, a escola ideal. Este hesitou um pouco, mas, por fim, decidiu contar o sonho que teve, há dias, sobre o que ele considerou ser a escola ideal.


Emigração

Por todos sabido, é extensa a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – tão grande que está espalhada pelos cinco continentes. Foi neles que os nossos emigrantes encontraram a melhor forma de vida, contrariamente às graves dificuldades que sentiram para conseguirem uma digna sobrevivência no seu país. E é esta Comunidade que levou e continua a levar a todos os cantos da Terra o conhecimento, a cultura, os costumes e os hábitos de Portugal.


A falta de professores

om o objetivo de tentar solucionar ou minimizar a falta de professores da escola pública para que os alunos beneficiem do seu inquestionável direito a todas as aulas constantes dos respetivos programas, entre algumas medidas propostas pelo Governo, sobressai uma com estas duas componentes: recorrer a professores aposentados; e a horas extraordinárias dos que estão ainda no ativo. Parece fácil; mas, não querendo duvidar desta solução, entendo que será muito difícil pô-la em prática.


O 25 de abril

Não se compreende falar do mês de abril sem referir o “25 de Abril”, dia da Revolução de 1974, em Portugal, que nos permitiu transitar duma situação de ditadura para uma de democracia.
Muitos de nós vivemos a ditadura, na qual a censura nos era grandemente imposta, assim como escamoteada muita informação, enquanto, no dia a dia, ambicionávamos a liberdade de expor as nossas ideias, bem como a sua concretização.


A minha ferida muito má

Quando o médico me disse
– E outros médicos confirmaram –
Que eu tinha uma ferida muito má,
Estava bem longe de supor que o abatimento em que vivia
Resultava apenas dessa ferida que me atormentava,
Dia a dia.
Porém, tanta felicidade me envolveu
Que, numa operação bem-sucedida,
Me foi retirada essa má ferida.

Agora sinto-me bem
E só peço que a ninguém
Aconteça o mal que eu tive.


Ser político

Ser político
(Adaptado do original)

Eu não posso ser político.
Se eu fosse político, como poderia afirmar,
Aos microfones e perante as câmaras,
Por exemplo, assim:

“- Cidadãos! O meu Governo é o melhor de todos”,

Se, no meu país, deixar que haja crianças a morrer sem nome,
Velhinhos a sofrer a solidão e a fome,
Barracas a cair de velhas, buracos a crescer de velhos,
Lágrimas de revolta e o consentir
Como se pode assim mentir?


Poema no Dia da Mulher (2)

Mulher, repara! Fez-se noite, de repente!
E a noite, maldosamente,
Aproveitou para esconder o mal que te feriu no peito!
E porque a noite é de breu, não há forma – não há jeito
– Penso eu – de encontrar aquele mal que te fez chorar
E que – diabólico – em situação tão insólita,
Naquele momento,
Desapareceu com o vento!


Em casa do senhor Joaquim

É noite. São talvez vinte e uma horas.
Depois de lauto jantar e de uma enorme confusão,
Tal como, às vezes, acontece por lá,
O senhor Joaquim
Está sentado no sofá, despreocupado e sozinho,
A olhar a televisão.

Como não vê a telenovela, a mulher, resmungando,
Foi para outra sala vê-la.

A filha, a Manuela,
Que detesta aquele argumento e aquele guião,
Fechou-se no quarto dela
E ligou para ver o Festival da Canção.


A Distância

A distância acabou por ser
Gradual, sistemática, duramente perseguida,
Seguidamente alcançada, firmemente capturada,
Terrivelmente domada, severamente oprimida,
Excecionalmente explorada…
Para, triste, sentida e doente,
Manifestar o desejo de retomar
O descanso que lhe roubámos, paulatinamente!

Utilizámos, além da humana passada,
O autocarro, o comboio, o automóvel,
A bicicleta raiada, o dirigível, o teleférico
E o ronceiro elétrico.


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