A opinião de ...

3 – Urgências Hospitalares o rosto duma vergonha

Só para pagar onze milhões de horas extraordinárias, feitas pelos profissionais do SNS, de janeiro a agosto deste ano, o estado desembolsou, só(!) trezentos e tal milhões de euros, dos quais 6.472 para cada médico e cerca de metade para cada enfermeiro, quantias bem simpáticas, atendendo, por exemplo, ao que ganha a classe média do país.
Com efeito, é, no mínimo, estranho que ninguém repare numa classe charneira como esta, que está à beira do limiar da pobreza e em perigo de extinção, esmagada pela voragem insaciável da carga fiscal que lhe retirou toda as possibilidades de viver com alguma dignidade, que passa o tempo a inventar como pagar despesas essenciais como a habitação, a saúde, a alimentação, os transportes e a educação dos filhos.
Esta é a realidade que temos, que ninguém vê, ou é cómodo não ver.
Face à crise de identidade do SNS, capaz de por em risco o presente e o futuro de todo o sistema de saúde, chegou a hora de dizer basta, e de encarar com realismo a obrigação inadiável de fazer o que ainda for possível para inverter esta situação, começando por libertá-lo da chusma de gestores de ocasião incompetentes, correias de transmissão dos partidos saídos das máquinas partidárias que os selecionam, tutelam e colocam nos lugares estratégicos onde acabam por criar raízes, prosperar e fazer carreira.
Para além da satisfação de outros interesses nebulosos, estes foram os primeiros e grandes responsáveis por esta crise avassaladora que ameaça arrasar o que resta do atual SNS os quais, se tivessem coragem e vergonha, já há muito tempo que se deveriam ter demitido e explicar às pessoas tudo o que elas têm o direito a saber, começando por desmascarar o polvo do compadrio que controla e domina a admissão e gestão de pessoal de muitos serviços públicos.
Na verdade, é impossível continuar com a política de despejar inutilmente milhões no ministério da saúde em áreas como a contração de tarefeiros e trabalhadores eventuais que não são solução para nada e custam fortunas ao nas ao estado, gente cuja única preocupação é saber quanto vai faturar, sem qualquer espírito de serviço nem sensibilidade para com os problemas os dramas, as dificuldades, as angústias, a dor e o sofrimento dos doentes.
EM TEMPO: Parabéns ao Sr. Primeiro Ministro pela genialidade e originalidade, só ao alcance dos predestinados como diagnosticou as doenças das urgências hospitalares e a maneira brilhante, prática, simples, económica e rápida como descobriu a cura para as moléstias que afligem as urgências hospitalares, o que, afinal, era tão simples!
Com ditos(pucos) e subentendidos (muitos), assim falou Sua Excelência:
Porque “os utentes são a chave da resolução das urgências”, se só aparecer por lá “quem for mandado por um centro de saúde ou por um médico”, “não conseguir automedicar-se com um chazinho” ou “quem estiver mesmo a bater a bota”, este o problema acabou”.
E se não for mesmo como ele disse?
Haja calma porque, no fim da linha, estará sempre disponível uma Agência Funerária. Sem brincar com coisas sérias, é caso para dizer, mas que luxo!

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