Ricardo Mota

Nascera a Liberdade…

A mudança acontecera há cerca de seis anos. O monte Godim, no topo do qual brilha a Igreja do Bonfim na cidade do Porto, fará parte, para sempre, das memórias de quem por aqui viveu juventude interrogada, entre crescimento físico e mental. Foi nestes ares, em tertúlia do café Capa Negra I, que interiorizei a vastidão do pensamento social para além do ninho em que crescera.


Um por todos, todos por um…

1977. A eira, no morro da aldeia, de quartzo branco, em círculo, domina o espaço, voa acima dos vales que a partir dali se projectam. Daqui, deste lugar, aspiram-se bons ares, é como uma centralina de cores, das que a natureza oferece, o verde travestido de todas as tonalidades transmontanas. Lá no fundo, bordejando a ribeira, a caminho do Ribeiro de Zacarias que transporta as águas para sôfrego Sabor, oliveiras, amendoeiras, giestas, urzes, silvas, tojo, todos compõem a palete esverdeada que nos enche o olhar, que inebria e descansa.


Caro Nuno...

Na Roma antiga, no momento da ascensão, um pregoeiro corria as ruelas das povoações, badalando um chocalho, anunciando que alguém “tinha vivido”. Acrescento, isso acontece só cá, na esfera terrena. Mas este Nuno, o nosso, viveu e pulsará para sempre no coração de todos, nos dos amigos e da Família.
Rebobinando a memória, prodígio humano, regresso a Barros Lima, lá no cimo do Bonfim, no topo do Monte Godim, escuto e ouço os ventos que transportam nossas vozes, as que viviam e passavam pelo nostálgico casarão, um dos lares de uma das maiores Famílias do Norte de Portugal.


Arrepiai Caminho…

Dizem que o universo nasceu de uma massa comum, que explodiu, criando um sem número de galáxias que se encontram em expansão. Estas galáxias, como também nos ensinaram, são compostas por um número incontável de estrelas, planetas, cometas e outros nomes que só os entendidos conhecem.


A brisa…

O vento é dos fenómenos naturais o que mais me fascina. Sempre adorei o arejo fresco que me contorna e molda a face. É como um afago vindo do futuro. Quando me encontro no cume das montanhas, que procuro amiúde, parece que a vista não se alcança se a atmosfera não mexe ou se o vento não aparece, como companheiro.
Quando releio escritos de Torga e vislumbro Galafura não imagino os sítios sem o mexer das árvores, as ravinas não se tornariam vertiginosas e agrestes sem o vento a empurrar-nos, as nuvens escuras não seriam medonhas senão bufadas pela correnteza dos ares.


XY6024H2O...

Ano três mil e setenta e nove (3079). Encontro-me algures no meio da água-mãe, num ponto de onde dizem terem partido terráqueos que deram a conhecer ao mundo novas civilizações. Com um simples pestanejar accionei mecanismo telepático existente no cérebro e fiquei a saber, através de receptor situado na estufa à qual pertenço, que este sítio se chamou Portugal. Pelos algarismos implantados nas testas dos viajantes observo ser este local procurado por seres oriundos de sítios diferentes.


Os de Umbigo Inchado…

Neste louco momento pandémico, neste horrível atravessar sinuoso do desconhecido, nesta ditadura do silêncio e quietude que encapsulou a humanidade, colo-me à janela no observar do mundo. Daqui, por detrás do vidro, confinado, cumpridor, respeitando a virulência da covid19, tento antever a nova normalidade, o que nos espera, o que aí vem.


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