A opinião de ...

Festas de verão em Trás-os-Montes, a simbiose perfeita entre o religioso e o profano

Das festas da Senhora das Graças em Carção, passando, entre outras, pelas da Senhora da Serra, da Ribeira, do Caminho, do Naso, do Amparo, das Dores, da Saúde, da Assunção ou do Aviso, sempre e em todas elas, a mesma manifestação de fé e de confiança dos trasmontanas naquela que , desde o berço, aprendemos a amar como a nossa Mãe do Céu, que nos protege e guarda com o mesmo amor e carinho, com que todas as mães, fazem do seu regaço o porto de abrigo para todos os seus filhos.
Agora que, com o fim do verão, está a terminar o ciclo das grandes festas populares das nossas terras, dentro dos condicionalismos civilizacionais dos novos tempos, é importante e urgente que as populações locais e as suas associações, bem como as autoridades civis e religiosas, sem preconceitos nem ideias preconcebidas, se reúnam para fazerem uma análise ajustada à realidade atual do fenómeno das festas populares do verão para que, pensando apenas no interesse futuro das populações, façam tudo o que podem e devem fazer para melhorar, ou, no mínimo, garantir a sua continuidade por muitos e bons anos.
Em tempos como estes, em que tanto se fala na crise demográfica que ameaça acelerar a desertificação total do interior, é chegada a hora de as entidades responsáveis fazerem uma análise cuidada sobre a enorme influência que as festas de verão podem exercer sobre as comunidades da diáspora, um fator de enorme importância para continuarem a manter viva a ligação às suas origens, e equacionarem a maneira mais prática de também elas, à sua escala e dentro dos seus orçamentos, à semelhança do que se faz nos grandes meios, tudo fazerem as promover e apoiar.
Na mesmo ordem de ideias, em pleno a século XXI, e em consonância com a nova realidade eclesial preconizada pelo papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude, onde sublinhou que, como a capelinha das aparições de Fátima, que não tem paredes nem janelas, também a Igreja, para não se demitir da sua missão, correr o risco de sacrificar o que é verdadeiramente importante, gerar focos de tensão inúteis e desrespeitar as lágrimas e os sentimentos dos fiéis, não pode fechar-se sobre si mesma, nem imiscuir-se ou condicionar a maneira como cada pessoa agradece as graças recebidas por intercessão de Nossa Senhora, não negando a ninguém a possibilidade de cumprir as suas promessas, como sempre se fez em Carção onde, com todo o respeito e dignidade, as pessoas, segundo a vontade de cada um, sempre optaram por depositá-las na igreja aos pés da imagem da Senhora das Graças, ou prende-las nas fitas do andor, à passagem da procissão pelas ruas da aldeia.

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