A opinião de ...

Soltem-nas!

Não foi inocentemente, e muito menos por mero acaso que, no meu comentário da semana passada, sob o título “Que futuro para as nossas crianças ?” pintei de negro, (talvez para algumas sensibilidades com um pouco de exagero, opinião que aceito sem qualquer reserva) a situação atual das crianças que, um pouco por todo este nosso mundo de surpresas e de contrastes, seja qual for o prisma sob o qual seja observada, se mostra cada vez mais incompreensível e mais preocupante.
Porque, convictamente, acredito que todas as crianças têm direito ao seu futuro, antes de mais nada, propositadamente, fi-lo para despertar e desinquietar consciências, tentando obriga-las a sair do marasmo, da resignação e do conformismo em que uma grande parte da humanidade se deixou cair e, ao mesmo tempo, tentar ajudar a abrir caminhos para que, com toda a justiça, e por muitos e muitos anos possamos continuar a dizer que “as crianças,(mas todas), são o melhor do mundo”.
Perante este enorme dilema civilizacional em que a humanidade se deixou afundar, terá de ser a própria humanidade, no seu todo, duma maneira global, coordenada e responsável, a fazer tudo para o resolver, na exata medida da responsabilidade individual e coletiva de cada pessoa e de cada organização, social, política, religiosa ou outras.
Não será nada fácil reverter a atual situação, é verdade, mas é por isso mesmo que ninguém se pode considerar dispensado de tudo fazer para que todos possamos voltar a viver num mundo novo, no qual as crianças possam nascer, crescer e ser felizes, sendo só crianças que:
- Tenham tempo, condições e oportunidades para ser crianças, brincar na rua com os amigos jogando à bola, aos polícias e aos ladrões, ao esconde-esconde, à macaca e ao pião, aos contrabandistas, ao pingue e à ranhola;
- Irrequietas, imprevisíveis, livres e aventureiras, voltem a ir aos ninhos, apanhar fruta proibida tentadora dos quintais dos vizinhos, saltem valas e paredes e corram livremente até rebentar com os sapatos, sem o medo de se espalharem no chão, esmurrar as mãos e os joelhos;
- À socapa, toquem às campainhas das portas e fujam rua a baixo, façam toda a espécie de tropelias e de asneiras e se metam em todas aventuras, essenciais para o desenvolvimento da sua personalidade de pessoas felizes, livres, corajosas e responsáveis;
- Tenham todas as condições para sonhar, viver e explorar a sua liberdade, os seus sentimentos e as suas emoções, e não corram o risco de estupidificarem perdendo o melhor tempo e da sua juventude a dedilhar telemóveis, horas sem conta, escravos das consolas de jogos viciantes, inúteis e alienantes, ou colados ao monitor dum computador, a ver sabe-se lá bem o quê.
Para que tenhamos o direito e a possibilidade de continuar a dizer e garantir que as crianças continuarão a ser o melhor do mundo, um pedido e um desafio:
Por favor, libertem todas as crianças e libertem a criança que deve haver em cada um de nós.

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3842

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