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Da Aclamação à Restauração 1640-1668: O Golpe de 1 de dezembro!

Naquela manhã de sábado, 1.º de Dezembro de 1640, quando perguntaram a D. Antão de Almada porque se dirigia com tanta pressa na companhia de alguns companheiros em direção ao Paço da Ribeira, este terá respondido: «vou ali trocar de rei e já volto». Assim foi!
Discretos, mas de passo decidido, um grupo de conjurados* com espadas e pistolas resguardadas nas suas capas barrocas e altivos nos seus chapéus emplumados, atravessa um Terreiro do Paço cingido pelo frio da época e, céleres, acometem contra o Paço da Ribeira, sede do governo espanhol em Portugal. Anulam a oposição da guarda castelhana e tudesca, a duquesa de Mântua, representante hispânica em Portugal, foi detida e enviada para o Mosteiro de Xabregas e o secretário Miguel de Vasconcelos, identificado com a aura de traidor à Pátria, foi defenestrado (atirado janela fora). No imediato, a guarnição castelhana do castelo de S. Jorge (500 soldados) foi obrigada a render-se, o mesmo acontecendo à da Torre de Belém e restantes fortalezas situadas na linha do Tejo. A dinastia filipina da coroa portuguesa era assim desligada. Depois, D. João, 8.º duque de Bragança, abandonou o recato do Palácio de Vila Viçosa, os prazeres da caça e a arte da música para assumir políticas de alto risco como rei de um país que poucos acreditavam que se restaurasse. Chegado a Lisboa, foi aclamado rei D. João IV de Portugal no dia 15, em cerimónia realizada no Terreiro do Paço. Entretanto, a notícia da Aclamação foi de imediato acolhida em todo o território português e nos domínios ultramarinos, registando-se como exceções Ceuta (definitiva) e a ilha açoriana da Terceira (temporária). Parte dos nobres portugueses, que estavam junto da corte de Madrid, permaneceram nos seus postos. Mas a dimensão miraculosa da Restauração reside no seu carácter definitivo, emprestado pelo povo que aderiu espontaneamente após o sucesso do golpe. O nervo defensivo da Pátria gritava presente!
A notícia da ação dos conjurados chegou a Madrid em 6 de dezembro, sendo recebida com alguma displicência pelo conde-duque de Olivares que, sem saber como dar tão grave notícia ao monarca, lhe interrompeu a tourada a que assistia para dizer que o ato de loucura do duque de Bragança permitiria à coroa espanhola ganhar um ducado e doze milhões, através do arresto de bens e títulos! Atónito, Filipe IV sentiu que o ministro que lhe tinha espetado um par de bandarilhas e que o duque de Bragança o encostou às tábuas. O touro deixou de lhe interessar. Era ele que estava a ser lidado!
Em Portugal, um realista D. João IV afirmou: «guardemos as alegrias para depois. Agora tratemos de nos defender». Com efeito. Seguiram-se 27 anos de Diplomacia para captar apoios na Europa, nomeadamente a França e a Inglaterra, Guerra contra a Espanha nas fronteiras continentais e contra a Holanda nos domínios ultramarinos a Oriente e no Atlântico Sul (Brasil e Angola). Demorou até 1668, mas restaurou-se e Portugal escreveu uma das mais brilhantes páginas da sua História.
Durante o processo, nas Cortes de 1646, D. João IV constituiu-se Vassalo Perpétuo da Virgem Santa Maria, enquanto agradecimento pela Proteção dispensada aos aclamadores da independência da Lusa Pátria. De tal forma que a 25 de março, dia da Anunciação do Arcanjo São Gabriel a Maria, o monarca declarou que tomava Nossa Senhora da Conceição por Padroeira e Rainha de Portugal. Desde então, nunca mais os reis de Portugal ousaram colocar a coroa na régia cabeça e a o 8 de dezembro passou a ser festejado como dia de Nossa Senhora da Imaculada Conceição.
Nota Final*: O número de 40 Conjurados não é factual, na verdade eram 36 nobres e 71 fidalgos identificáveis (mais os ajudantes das respetivas casas, num total de cerca de 200 pessoas). O número 40 remete para o 40 Quaresmal, ou a passagem de uma longa noite nas trevas castelhanas, para a Luz Pascal da Ressurreição da Pátria.

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3913

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