A opinião de ...

Luar de Agosto

O rifoneiro proclama: Luar de Agosto bate no rosto. Infelizmente, no ano em curso, em muitas regiões do País, o eclatante Luar tem sido ofuscado por negras colunas de fumo e alterosas labaredas semeando projecções de manutenção dos malignos incêndios que nos consomem fazenda, denodados esforços, quantas vezes de um vida inteira de poupanças, para lá do mais importante, a própria existência de todos quantos são vítimas destas catástrofes.
Ninguém pode sentir-se seguro mesmo nos locais considerados como tal (no Algarve cosmopolita dos campos de golfe o fogo semeou o pânico), obrigando-nos a mais uma vez cogitarmos acerca das causas da cíclica irrupção em todo o território como se fosse antecipadamente programado o calendário do aparecimento (à vez) dos terríveis agulheiros de chamas.
E, quando assim acontece, não apetece recordar o Luar de Agosto que, no passado deu azo a intensas manifestações de engenho, nas noites de Verão com ênfase na sociedade rural portuguesa de oitocentos e novecentos sendo a grávida ou redonda Lua a «estrela» animadora dos tempos nocturnos consagrados ao descanso numa época de estrídula azáfama nessa mesma rústica parcela do rectângulo lusitano.
A literatura da época glosou com mais ou menor engenho o tema, para no regime salazarista o astucioso cineasta Leitão de Barros envernizar os conteúdos e figuras dentro toada idílica da casa portuguesa e do pobrete mas alegrete, por viver longe da guerra, que grassava na vizinha Espanha e Hitler ensaiava o que viria a ser a II guerra mundial, enviando aviões a fim de arrasarem Guernica que Picasso representou esse horror num quadro exposto no Museu Rainha Sofia em Madrid.
Todos nós retemos nostálgicas imagens do Luar de Agosto onde quer que seja, no entanto, para remoer saudades, dentro do saudosismo de Pascoes ao ter contemplado em Agosto a lua nas ameias de Castelo de Bragança, é registo que espero não esquecer, pois o meu maior medo é perder a memória. Para o bem e para o mal!

Edição
3897

Assinaturas MDB