A opinião de ...

Um ponto de vista...

Pertenço ao lote daqueles que se orgulham de haverem subido a pulso a corda da vida, sem privilégios. Ainda assim, e defensor do figurino da meritocracia, nunca privei com esta; ao invés, nos momentos em que me coube montar cavalos nas etapas diversas do meu percurso, vi-me no dorso de azémulas sem préstimo. Detentor de escolaridade relativamente longa e de qualificações que me aprazem e satisfazem, levanto o olhar e deparo-me com tantos a quem forças várias guindaram a lugares mais cómodos e dourados do que merecidos.
Por força de circunstâncias que aventureiros irresponsáveis criaram, vi-me desapossado de uma enorme fatia daquilo que me cabia em proventos de aposentação, exactamente num momento da vida em que os mesmos me eram sumamente importantes. Por bem menos, muitos se queixam bem mais. E há aqueles a quem tão pouco assistem quaisquer razões de queixa, privilegiados intocáveis, deuses de certos céus. Ainda assim, espero e acredito por não vazio o meu sacrifício que, obviamente, não foi isolado. Porque estamos mais longe de nos despenharmos estrondosamente numa bancarrota que se adivinhava, mais que certa; distanciou-se o trambolhão que fora pouco mais (ou pouco menos) que inevitável. Pena somente que parte do sacrifício colectivo haja continuado a alimentar a gula de uns tantos alérgicos à honra que o trabalho comporta. Do meu ponto de vista, fez-se aquilo que era necessário fazer-se, faltando autoridade e sobejando desfaçatez àqueles senhores da crítica fácil, responsáveis pelos tempos austeros que vimos atravessando. Como disfarce, vão apontando objectivos cujo alcance seria útil, mas que sabem inalcançáveis, sem, contudo e por isso mesmo, apontarem meios, formas e caminhos. Oposição por oposição, destrutiva e jamais o seu contrário. Ausentada de qualquer esboço de cooperação ou estímulo nos escolhos e nos atoleiros que se tornou necessário desviar ou atravessar: antes arrasadora de medidas que se impunham,  minar permanente de terrenos nos quais haveria que cultivar o futuro. Gente simplesmente apostada na destruição desonesta de esforços honestamente suados. Políticos profissionais, veteranos da política a quem nunca se conheceu qualquer outra diferente ocupação, bem mais interessados no seu próprio umbigo e partido que os controla do que no bem comum para que foram mandatados. Políticos que fazem da política trampolim para outros voos, compondo, passo a passo, a cama onde amanhã se deitarão, em aprazível descanso. E chamam casa do Povo ao Parlamento que temos!... Mas que povo é este que essa casa habita, em faustosos dias embalado?...
Temo muito que um dia destes todos os meus e os nossos sacrifícios venham a ser fragorosamente desperdiçados por gente que gosta de viver acima das possibilidades, megalómana, com sérios tiques de riqueza. Temo que recuemos no caminho já duramente percorrido. Como já visto e vivido, certas mãos não são as melhores para pegar as rédeas de uma governação que se deseja sensata, benéfica para todos (não somente para alguns), honesta. Já se ouvem por aí certas promessas irrazoáveis e irracionais, condutoras a paraísos imaginários e que, se concretizáveis, não ultrapassariam a condição de suicídio económico-financeiro; mais um... Vale a certeza de haver cada vez menos pagadores de promessas...
Escrevo segundo a antiga ortografia.

Edição
3504

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