Democracia: porque nem tudo o que luz é ouro
Para os mais distraídos ou para os que não sabem, para os que se esqueceram e os que, de acordo com os seus interesses de momento, colocam o mundo no centro do próprio umbigo fazendo de conta que não sabem nada, que está tudo bem e que, do que de mal acontece à sua volta, nunca é nada com eles, a esses e a tantos outros, é oportuno lembrar que a palavra democracia deriva diretamente da palavra grega “demokratia”, cujo significado é “governo do povo”, ou “soberania popular”.
Nestes termos, é totalmente desajustado e até abusivo, considerar uma democracia todo e qualquer regime de governo no qual o poder seja extorquido das mãos do povo para ser exercido por terceiros, inviabilizando assim toda e qualquer hipótese de ele mesmo exercer o direito e assumir a responsabilidade de promover uma verdadeira e autêntica “ soberania popular”, tendo como único e grande objetivo o bem comum de toda a comunidade.
Lamentavelmente, é preocupante constatar que isto é o inverso do que, na prática, acaba por acontecer em grande parte dos governos de muitos países ditos democráticos, vício do qual Portugal está muito longe de se considerar imune.
Porque nem sempre as coisas são como que gostaríamos que fossem, e sendo por cá a atual atividade política o que todos nós sabemos que é, tudo indica que durante o período escandalosamente prolongado de vários meses a fio, em que o povo vai ser massacrado até ao limite da sua resistência e da sua paciência com campanhas atrás de campanhas para eleições atrás de eleições, há uma forte probabilidade de tudo se afundar na superficialidade vazia de conteúdo dum rol infindável de entrevistas na comunicação social, comícios, festas, desfiles e cortejos, bem ao jeito de festivais de folclore ou bem mais ridículos que muitos corsos carnavalescos, como se esta parafernália de espetáculos de rua não fosse castigo a mais, ainda terão de apanhar com a verborreia insuportável dum estilo comicieiro, que não muda uma virgula há décadas, esquecendo-se que as pessoas, que não são parvas nem mentecaptas, já os conhecem de ginjeira, sabem muito bem ao que andam e que depois de contados os votos, desaparecerão para parte incerta sem deixar qualquer rasto, estando-se nas tintas para promessas que fizeram, as balelas e as patranhas que tentaram impingir.
Perante tamanho desvario, não há sistema de governo que resista a tanta irresponsabilidade, que grassa como uma peste e que já não pode ser curada apenas com mezinhas e chá de malvas capaz de corroer os fundamentos e descredibilizar os princípios da própria democracia, deixando os caminhos escancarados para todos os aventureirismos, e depois logo se verá.