A opinião de ...

Que todos falhem em tudo, mas no IPO, por favor, não!

Já passou mais de uma semana sobre o alerta lançado pelo corpo clínico do hospital do  IPO de Lisboa, chamando a atenção de quem de direito para a gravíssima carência de meios, sobretudo humanos, que está a comprometer seriamente a capacidade de resposta daquela unidade de referência do serviço nacional de saúde para o tratamento das doenças oncológicas e, salvo erro ou omissão, até esta data, a resposta das autoridades responsáveis (?!), foi menos que zero.
Mesmo dando de barato que esta distração possa dever-se à época de férias  a que a classe política tem direito, mesmo que só tenha decorrido metade de uma legislatura, mas porque  direitos são direitos, (ainda que às vezes  sejam tortos como arrochos), aos efeitos da vaga de calor sobre a saúde das pessoas, às sequelas da pandemia e a mil outras razões que seria fastidioso elencar,  sem por em questão a importância dos outros hospitais,  porque enquanto nestes se trata da saúde e, bem pelo contrário, no hospitais IPO se luta dia a dia, hora a hora e minuto a minuto contra a morte, falhem em tudo mas nos hospitais do IPO do Porto, de Lisboa e de Coimbra não.
É que, por todas as razões e mais uma, pela área muito específica em que desenvolvem a sua atividade, na sua luta desigual da vida contra a morte, exige-se que haja a lucidez, a sensibilidade e o bom  senso de rapidamente colmatar as graves carências  de pessoal que condicionam a sua atividade.
E aqui não há como “adocicar a pílula” porque situações como:
1 – Manter instalações subaproveitadas no internamento e nos cuidados intensivos, quando há doentes à espera de internamento,
2 – Ter quadros de pessoal com um défice de mais de 400 colaboradores, dos quais 176 são enfermeiros e 84 são médicos,
3 -  Manter os serviços a funcionar com o atual quadro de pessoal a revelar sinais preocupantes de evidente esgotamento físico e emocional, a necessitar urgentemente dum período de merecido descanso,
4 – Realizar atos clínicos muito delicados, sobretudo na área da cirurgia  oncológica por equipas às quais não é facultado o necessário período de descanso e
5 – Continuar a tentar maquilhar o problema com o recurso a paliativos e soluções ad hoc sem qualquer sentido, a isto, pura e simplesmente, chama-se crime de lesa saúde.
Em tempo:
Por favor, para não perturbarem o doce remanso das férias de um qualquer terceiro ou quarto secretário, dispensa-se a informação de que vai proceder-se a mais um inútil, rigoroso e anedótico inquérito.

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