A opinião de ...

Quem diria, senhor Putin!

Afinal, a cada dia que passa e sempre que abre a boca, este senhor revela-se, não uma caixinha, mas um caixotão de surpresas do tamanho dum petroleiro.
Então, não é que agora, enquanto decorria o Forum de Davos, explorando o mediatismo do Forum Económico dos seus amigos na Eufrásia, resolveu dar uma de moralista e de homem muito preocupado com a crise provocada pela falta de cereais que ameaça matar à fome milhões de pessoas, crise da qual é ele o maior, se não mesmo, o único culpado?
Fazendo uma retrospetiva muito simples dos quase cem dias que já leva a invasão da Ucrânia, apesar das suas inegáveis qualidades histriónicas, é impossível compreender e aceitar as teses por ele defendidas, cuja única finalidade se resume à sua ambição descarada de se afirmar como o detentor exclusivo da razão, da ética e da verdade, o que o deixa cada vez mais desacreditado perante o conjunto das nações livres, porque o caminho tenebroso que traçou e seguiu até conseguir o seu poder totalitário na Rússia, não lhe dá qualquer direito de ter o desplante e o atrevimento, a não ser que pretenda apenas justificar-se a si e aos prosélitos que continuam a acreditar nele de dar lições de moral ao mundo, como hipocritamente tem tentado nos últimos dias.
Na verdade, é preciso ter a mais de atrevimento e cinismo o que lhe falta de vergonha e dignidade para, entre outas barbaridades, afirmar que “ A violação das regras e regulamentos no campo das finanças e do comércio internacional não leva a nada de bom e só trará problemas a quem o fizer”, “O roubo de ativos alheios nunca trouxe nada de bom a ninguém”, “Desconsiderar os interesses dos outro países na política de segurança leva ao caos e provoca crises económicas”, e, pasme-se “Que as crises globais estão a agravar-se em áreas tão sensíveis como a alimentação”, e que “ O Ocidente está a tentar enfraquecer os países que procuram escolher o seu próprio rumo”.
Entretanto, depois da pilhagem selvagem levada a cabo pela horda de vândalos a quem ele confiou a destruição indiscriminada de aldeias, vilas e cidades, que mandaram para as suas famílias tudo o que puderam roubar do que restou das casas que arrasaram, já entrou no porto da cidade de Mariupol, que ele mandou arrasar, o primeiro navio russo para carregar 2.700 toneladas de metal e… levá-las para a Rússia;
Entretanto, para travar a crise gigantesca que se adivinha na alimentação, esta espécie de Madre Teresa de Calcutá das mansões faraónicas, dos iates, dos paraísos fiscais e similares, acaba de ter um rebate de consciência e, como prova da sua grande generosidade e para evitar a fome, promete permitir a exportação dos cereais da Ucrânia pelo mar do Norte, mas só se for ele a fazê-lo!

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