A opinião de ...

A felicidade no trabalho

Só o ser humano trabalha. O seu trabalho é a atividade especificamente humana, tanto física como intelectual, que intervém no processo produtivo e visa gerar bens ou serviços.
Assim, o trabalho é a outra face da moeda onde também se faz presente o descanso e a diversão e representa um âmbito mais lato do que o emprego. No emprego, há sempre uma remuneração associada. No trabalho, pode haver ou não, como no caso do voluntariado (em Bragança, a Cáritas, a Cruz Vermelha e outras organizações e pessoas podem servir de exemplo...), em que se trabalha sem qualquer recompensa monetária.
“Somente o Homem tem capacidade para o trabalho e somente o Homem o realiza preenchendo ao mesmo tempo com ele a sua existência sobre a terra” acentua e bem a Carta Encíclica Laborem Exercens, Saudação, do grande Papa polaco e dos jovens, Papa João Paulo II.
Mas sobre o trabalho paira uma grande ambiguidade. Tanto é origem de alegrias, como de tristezas e até sofrimentos. Não só para quem não tem trabalho, os desempregados, mas também para quem não tem um trabalho de que gosta e passa a semana a olhar para o fim-de-semana e no mês a olhar para o ano, a ansiar por férias!
Quem tem um trabalho de que gosta, começa alegre (a ideia do chegar mais cedo já não é tão categórica até pela ocorrência do teletrabalho...) e finaliza-o bem-disposto.
Como dizia Confúcio, “escolhe um trabalho de que gostes, e não terás que trabalhar nem um dia na tua vida”.
Para muitos, este pensamento não é mais do que um cliché, mas quando pode ser concretizado na vida pode convergir numa experiência verdadeiramente admirável e que se faz evidenciar tanto por e para si próprio quer para os outros.
Não raras vezes, contudo, acontece-nos encontrar o contrário: gente de mal com a vida e que quando abordadas no desempenho das suas funções profissionais estão com uma cara tensa e zangada e um tom de voz como um eco de um autêntico suplicio!
Se pensarmos que a felicidade no trabalho é apenas estar ocupado e ganhar dinheiro, cometemos um grande erro. Aliás, boa parte da nossa realização humana depende da forma como vivemos, sentimos e o sentido que damos ao nosso trabalho.
Este sentido pode ser só o de auferirmos rendimentos e perspetivas de melhor futuro, mas com certeza preenche-nos muito mais se o encararmos igualmente como uma forma de expressão do nosso ser pessoa, que influencia toda a vida familiar, que nos insere e faz-nos participantes na vida social, que permite vínculos de companheirismo e amizade e até nos ajuda a aperfeiçoar o mundo, num sentido espiritual, tornando-nos co-criadores com Deus.
É tão bom ver alguém ter gosto na sua profissão e quando essa profissão tem como substância, o ensinar (difícil) e o educar (ainda mais difícil), ainda mais gosto dá!
Bem-haja professores/educadores pela vossa alegria e motivação diária, os que ainda a vão mantendo pese embora toda a desvalorização social, organizacional, relacional e financeira. As organizações e a sociedade também deviam entender mais e melhor os benefícios de terem trabalhadores felizes!
Pese embora fundamental, a vida não é só trabalho. Como disse atrás, também se precisa descansar. Pode aplicar-se aqui o mandamento do repouso sabático, ápice do ensinamento bíblico sobre o trabalho. O repouso abre a perspetiva de uma liberdade mais plena, neste caso a da Páscoa em cada Domingo e com ele recordar e reviver as obras de Deus, da Criação à Redenção, e reconhecermo-nos a nós próprios como obra Sua, dando-Lhe graças pela nossa vida e dos nossos, a Ele que é seu autor e subsistência.

Edição
3830

Assinaturas MDB