Sem agricultores não há comida
Uma verdade como um punho! Para haver comida tem de haver agricultura e quem se dedique a ela e dela viva, deve ser tratado com a dignidade máxima e valorizado devidamente o seu labor.
Para nós que somos ligados à terra, que gostamos de ver as vinhas a produzir, as árvores a dar fruto, os animais alimentados e que temos, da agricultura e dos produtores de animais, a experiência da dureza e do enfrentar as adversidades, assumimos perfeitamente que assim tem de ser.
Neste sentido se compreende os protestos levados a cabo, um pouco por toda a Europa e também em Portugal, especialmente o dos pequenos e médios agricultores e produtores, mais até dos que detém grandes extensões de agricultura e produção e são os principais destinatários de avultados apoios, financeiros e outros.
De modo geral, traduziram a sua insatisfação pelas regras fitossanitárias, ambientais e sociais que têm de suportar no seu trabalho que não são aplicadas aos agricultores de outros continentes, a chamada “cláusula espelho”, como aos da China e dos países do Mercosul, e que induzem em concorrência desleal.
Além disso, fazem denúncia dos elevados custos que o campo enfrenta como a inflação, os custos dos combustíveis, do adubo, dos associados à seca ou ainda dos derivados dos objetivos climáticos e da sustentabilidade impostos pela União Europeia.
Poder-se-ia ainda acrescentar a ideia tantas e tantas vezes experienciada de que a castanha vendida por um agricultor em Trás-os-Montes não é a mesma que é vendida em Lisboa, pois esta custa ali três e quatro vezes mais numa qualquer grande superfície comercial!
Os agricultores estão a lutar por eles e por aquilo que lhes parece mais justo, mas também, já agora, por todos nós!
Na verdade, para lá dos apoios prometidos e da alteração do Pacto Agrícola desejado na ordem europeia, o que esta manifestação veio efetivamente mostrar, é que é preciso escutar o mundo rural e perceber a sua decisiva importância para a vida de todas as pessoas, mesmo aquelas que pensam que o leite vem do pacote ou a batata de uma qualquer árvore de jardim!
No nosso território muito em especial é preciso que as organizações representativas da classe estejam na mesa do diálogo e as decisões sejam tomadas em devida consideração das suas opiniões para que não se chegue a um ponto crítico.
É fundamental que haja quem assuma o Ministério da Agricultura e do sector tenha profundo conhecimento e uma visão de futuro para ele, muito para além da burocracia.
É determinante que se encontrem os meios e os tempos devidos para o escoamento dos produtos, assegurada a qualidade, a custo justo.
É imprescindível que na cadeia comercial alimentar haja menos décalage entre o preço do produtor e o preço do consumidor, pois ganhariam ambos e menos quem faz somente a distribuição e venda.
Se não, qualquer dia, estaremos a passar fome pois ninguém à agricultura se dedicará!