A opinião de ...

Sentir Portugal

De entre os sentimentos de quem, por algum motivo, teve de ir viver para o estrangeiro, talvez o mais assinalável que nutre, em si se desenvolve e que não cabalmente consegue explicar, é o de sentir Portugal.
Talvez cada um de nós, de alguma forma, já o sentiu quando esteve mais do que uns dias fora do nosso país.
Contudo, este sentir Portugal é ainda assim muito diferente do que sente quem aqui vive, permanentemente, e apenas se ausenta por uns dias deste solo pátrio.
Como no-lo evidenciam familiares e amigos, assenta numa espécie de paradoxo intangível, que faz, por um lado, exacerbar, pelas saudades que naturalmente emergem, o que no nosso país existe de melhor, a família, os amigos, a luminosidade, a comida, a bebida, a segurança, a tranquilidade, etc, e, por outro lado, as manifestas comparações em tantas áreas, sobretudo as ligadas às funções sociais do Estado, que recebem as críticas negativas por não corresponderem às que existem bastas vezes nos seus países de emigração.
Este sentir Portugal é a força que tantas gerações de portugueses usaram e ainda hoje nela se arreigam para lutar por uma vida melhor além-fronteiras, com o desejo de melhorar as suas condições de vida e obter um honesto e legítimo bem-estar que possa partilhar com os seus entes queridos, que não os deixa ignorar o seu sentido de dignidade, de trabalhadores e de pessoas, a fina sabedoria de vida que os faz gerir antagonismos de pertença a culturas, sociologias e geografias tão diferentes.
Daí que vale a pena, a propósito, questionar sobre quantas competências invulgares não revelam os nossos emigrantes, no Luxemburgo, na Suíça, na França, na Alemanha, nos EUA, etc, mas que Portugal os dispensou!
Não andaremos muito longe da verdade se se disser que, muitas vezes, o seu próprio País, em diferentes dimensões, não tem tratado bem os seus emigrantes. Basta ver a fobia que se instalou aquando da pandemia de Covid-19, não só com o fecho das fronteiras físicas, mas especialmente das fronteiras dos afetos, com alguma histeria à mistura, que quase tornou personas non gratas os nossos emigrantes que vieram, como é óbvio, para aquela que é a sua terra, a sua nação, o seu lar.
Quase todos nós temos familiares que emigraram ou estão emigrados. Não se tratam de números, nem de contribuintes, mas de pessoas. Cada qual com uma história única e um caminho a ser percorrido para alcançar o seu sonho.
Não só, mas também por isso, e por o nosso País ser um País de emigrantes (e hodiernamente de forma acentuada de imigrantes), saibamos dar-lhe o nosso maior respeito, carinho e apreço, o mesmo é dizer, tratá-los fraternalmente, com solidariedade e com justiça!

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