A opinião de ...

A vontade e a Democracia

A democracia é uma construção da vontade. A democracia tem de ser desejada para ser possível e o amolecimento da vontade é um dos fatores da sua degradação que origina a ascensão do populismo nas suas várias formas.
A indiferença ou a simples lamentação e queixume, comportamentos de passividade e marca registada dos tempos hodiernos, empobrecem o nosso sistema democrático.
Tais constatações deviam obrigar-nos a uma atitude de permanente revisão crítica que vai muito para além do que se afirma como verdade de La Palisse, isto é, de que todos podemos (e devemos) participar na vida pública, seja por militância em partidos e movimentos políticos, seja por integração em órgãos e estruturas do poder, entendido como uma função que visa concretizar o bem comum, seja pela resposta efetiva nos momentos de decisão democrática (eleições ou referendos), em igualdade de circunstâncias, de acordo com as regras firmadas, livre e consensualmente aceites.
Assim, é de referir como fulcral que cada um de nós também assuma, como cidadão, todas as implicações de ser, individual e coletivamente, contribuinte que tem deveres para com o bem que é de todos, bem esse que se apresenta como uma exigência ética e à qual não nos podemos eximir, ainda que ninguém goste de pagar impostos quando eles são injustos e desproporcionais. Na verdade, não se pode deixar de invocar o premente dever de todos serem honestos e verdadeiros na relação com o Estado enquanto estrutura que deverá garantir as condições de realização de todos.
Contudo, face aos sinais dos tempos, será preciso ir mais além, pois de modo nenhum se pode aceitar passivamente o que já grassa pelo País e que o torna insustentável.
Como exemplos, podem referir-se diferentes situações de grupos restritos de dirigentes político/partidários que usurpam o Poder, nos seus diferentes níveis, a favor dos seus interesses particulares ou dos seus objetivos ideológicos; a forma arbitrária ou injustificada como alguns políticos exercem o Poder, por inação, incompetência ou amiguismo, redundando em graves consequências para os cidadãos e para país, obrigando as próximas gerações a viver com dificuldades; todos os tipos de corrupção e a decorrente impunidade, etc.
Sendo assim, é decisivo que a resposta individual vá no sentido de que se forme uma opinião pública forte, cujo cerne é a verdade, isenção e rigor da informação, para a qual a imprensa está convocada. Concomitantemente, que seja assumida a vontade de desenvolvimento de ações junto de diferentes movimentos cívicos, ou ainda, que cada um se disponibilize a atuar através da criação e apoio a estruturas de organização social (IPSS) que ajudem a responder aos problemas reais.
Como referiu Martin Luther King “o que mais preocupa não é o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética. O que mais preocupa, é o silêncio dos bons”.

Edição
3909

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