A opinião de ...

Duas notas (des)atuais

1.ª Greenwashing e nós
No momento em que deixo estas reflexões, já muita água correu debaixo das pontes (que veio atenuar ligeiramente a seca imensa neste nosso Planeta, a cada momento menos verde). Por isso, o leitor poderá pensar: não vale a pena continuar. Mas, vá lá.
Greenwashing (já os escritores Eça de Queirós e Campos Monteiro, entre muitos, utilizaram amplamente anglicismos e galicismos) significa, à letra, ‘lavagem verde’ ou ‘brilho verde’. É um processo de marketing comercial, travestido de marketing social, utilizado por algumas empresas para transmitirem a ideia de que a sua atuação é ambientalmente segura. Utilizam imagens e palavras sugestivas para transmitir a mensagem de “empresa ecológica”. É legal as organizações utilizarem mensagens desta natureza? Sim, contudo, nec justum licitum est (nem tudo que é legal é lícito). Basta olhar à volta. O exemplo de empresa, cronologicamente mais próximo, que invoca a “neutralidade carbónica”, foi-nos dado pela Coca-Cola apoiante da reunião sobre o Clima no Egipto. Cito o texto oportuno de Nicolau Ferreira: «O comportamento da Coca-cola na 27ª Cimeira do Clima da ONU pode ser visto como uma ação clássica de greenwashing» (Público, de 2022/11/17). Algumas organizações utilizam mensagens apelativas, procurando influenciar o consumo dos seus produtos (bens e serviços), não sendo, porém, correto concluir que todas as formas de publicidade têm perversidades. Grandes empresas internacionais assumiram o designado “Compromisso Global 2022”, cujo grande objetivo é acabar com a poluição provocada pelo plástico, iniciativa apoiada pelo Programa Ambiental das Nações Unidas.
Como devemos proceder nós, cidadãos, face a este fenómeno? Que parcela de compromisso nos cabe assumir? A reflexão é nossa, de todos. Está em causa a saúde coletiva e individual. Da Natureza, também.
2.ª Direitos do Homem
Sobre o Mundial da discórdia, muito se tem escrito e discutido. O nosso Presidente afirmou algo que indignou muita gente ao afirmar “enfim, esqueçamos isso” [dos direitos humanos]. Concorde-se ou discorde-se com a afirmação do alto magistrado da Nação (e eu discordo deste tipo de visitas oportunas em favor de…), temos de convir que o sentido da vida humana está na realização de valores, nascidas da conceção que fizermos desses valores. Podemos compreender e aceitar os valores que o Homem vai produzindo, e conformarmos, assim, a nossa atuação hoje, mas, amanhã, por conveniência, acolher, com base em hesitações que obedecem a um certo oportunismo, algo que subverte o que era correto, incorrendo numa hipostasia, numa abstração? No fundo, só conhecemos os homens (implicitamente, as organizações) quando nos apercebemos dos critérios de valoração a que obedecem. Houve um campeonato do Mundo de Futebol que se realizou num país onde não há um mínimo denominador comum de valores (reconhecendo-se, todavia, que é difícil encontrar esse denominador comum a todos as nações!). Realizou-se o campeonato, caros leitores, sob a égide da FIFA, que, a seu tempo, atendeu a razões mercantilistas. Os países fizeram-se representar pelas suas seleções. Terão dado exemplo de dignidade e de fair play, valores universais no desporto? Não é isto que desejamos? Quanto a direitos do homem, interroguemo-nos: como andam pelas bandas desta Europa cruzadista?

Edição
3916

Assinaturas MDB