Igreja de Nossa Senhora da Assunção, Outeiro. Expressão Metamórfica do Xisto!
Implantada na margem direita do rio Maças, que traça a linha fronteiriça com Espanha, e distante 25 km de Bragança, Outeiro está referenciada desde D. Sancho I. Foi sucessivamente designada Outeiro de Asnas, Outeiro de Muas, Santa Maria de Outeiro, Outeiro de Miranda e, atualmente, Outeiro. Teve no castelo “dionisino”, situado no morro sobranceiro a 812 mt de altitude, em ruínas desde a guerra de 1762, o fiel guardião, e apresenta a seiscentista Igreja-Basílica do Santo Cristo como monumental imagem de marca. Integrou os domínios do mosteiro do Castro de Avelãs, foi distinguida em 1514 com Carta de Foral por D. Manuel I, pertence, desde 1545, à Diocese de Bragança-Miranda e teve por donatária a Casa de Bragança. Foi vila e sede de concelho até 1853, especificidade marcada pelo esbelto pelourinho quinhentista, erguido junto à antiga câmara e a cadeia. Compreendia então as localidades de Argozelo, Carção, Paradinha, Milhão, Paçó, Pinelo, Quintanilha, Quintas do Vilar, Rio Frio, Santulhão, Vale de Prados e Veigas. Hoje cinge-se à própria aldeia e a Paradinha de Outeiro. Além da Basílica, a única em Portugal situada numa aldeia, Outeiro tem por templos católicos a Igreja matriz de Nossa Senhora da Assunção e as Capelas de São Gonçalo, São Roque e Vera Cruz do milagre do Santo Cristo.
A matriz reporta a existência à fundação da localidade, no século XIII, com intervenções no século XVII e nos anos oitenta do século passado. Trata-se de um templo rústico de feições românicas, com a originalidade da fachada voltada para o arruamento ser lavrada a pedra de xisto, que inclui o campanário de duplo arco sineiro, as escadas de acesso e o “torreão” que entaipa o antigo portal principal. De entrada única, voltada a Sul, o portal, protegido por alpendre, é singelo. No interior subsiste um lanço de degraus na parede fundeira, correspondente à entrada primitiva na Igreja. Inclinada na direção do altar-mor, da simplicidade da nave destacam-se os dois altares laterais barrocos, confrontantes e similares, dedicados a Nossa Senhora da Expectação e Nossa Senhora do Rosário, cujas imagens dizem ter sido trazidas da capela do castelo, consagrada a Santa Luzia. De mesa paralelepipédica, retábulo de eixo único em talha policromada e dourada, as imagens assentam em mísula com querubim no frontal, coberta com dossel à base de sanefas. São definidos por quatro pilastras, molduradas e decoradas com conchas e vegetalismos dourados, e duas colunas espiraladas de capitel coríntio, assentes em anjos atlantes, de onde sobressaem arquivoltas. A diferença retabular está na decoração do fuste, vegetalista no do evangelho e concheado no da epístola, além do primeiro ter sacrário, coroado e ladeado por anjos.
Acede-se ao presbitério por arco triunfal de volta perfeita, com teto de madeira em forma de berço. O altar-mor é sobrelevado por supedâneo com três degraus, a parede testeira constituída por blocos de xisto com as juntas pintadas de branco, interrompida por portas de madeira nas laterais inferiores e imagens expostas de São Pedro e do Sagrado Coração de Jesus. De mesa de celebrações em forma de urna avançada e retábulo de um só eixo, em talha policromada e dourada do período joanino, à base de acantos enrolados e putti como elementos decorativos. A tribuna, que acolhe sumptuosa imagem de vestir do Orago Nossa Senhora da Assunção sobre trono, sobre o sacrário, é delimitada por colunas salomónicas de capitel coríntio e fuste com pâmpanos e fénices, rodeadas por pilastras. O ático deriva das respetivas arquivoltas, a interior salomónica, unidas por aduelas. No lado do evangelho está porta de acesso à sacristia e imagens de Santo Estevão e de Nossa Senhora de Fátima e, no oposto, janela para entrada de luz e imagem de Santa Luzia.
Outeiro, ou a monumentalidade e religiosidade de uma aldeia histórica.