O exemplo vem de cima
Recentemente estive com alguns amigos numa tertúlia na cidade de Valladolid. Apesar de se tratar de uma das cidades supostamente mais inteligentes de Espanha e até da Europa, encontrei apreensão e pessimismo em alguns cidadãos, entre eles arquitetos, jornalistas, engenheiros informáticos, engenheiros industriais, designers, ambientalistas, consultores, etc. No fundo, uma palete variada de cores e elementos que formam as atuais “Smart Cities”.
Estranhei bastante aqueles sentimentos, de impotência, frustração, até de incompreensão entre alguns que gostariam de contribuir mais para a vida diária da cidade, para o seu desenvolvimento mas que esbarravam sempre (ou muitas vezes) num imobilismo da administração pública (municipal ou regional) que os impedia de colaborar ativamente com as suas ideias e com os seus desinteressados contributos.
Estranhei também, porque estando eu em Bragança, no interior do país, cada vez mais despovoado e com dificuldades já crónicas de desenvolvimento e captação de populações e empresas, poderia ter, quiçá, mais razões para manifestar-me pessimista. Mas não.
O meu contributo para a reflexão foi dar o exemplo das dramáticas medidas antipoluição anunciadas pela autarca de Paris, Anne Hidalgo:
“Em 2020, não será queimado qualquer combustível fóssil em Paris. Carros normais serão banidos para sempre das suas mais poluídas avenidas, que serão apenas abertas a viaturas elétricas ou híbridas. Entretanto, os bairros mais centrais da cidade (...) serão barrados a todos exceto às viaturas dos residentes, serviços de entregas e de emergência, transformando o centro parisiense numa zona semi-pedestre. Como contrabalanço, o numero de ciclovias será o dobro em 2020 enquanto a cidade irá financiar um extenso sistema de ‘bikesharing’ para encorajar mais cidadãos a utilizarem as duas rodas. Eu quero que Paris seja um exemplo.”
Porque é pelo exemplo que se conquistam os corações e, pese embora o pessimismo lancinante em praticamente todas as cidades, precisamos alimentar alguma esperança. A educação, a transparência, a verdade e o exemplo são ferramentas ao dispor das cidades. Usá-las naturalmente é o passo mais inteligente por parte de quem governa e administra. Pelo contrário, fechar-se em copas, ocultar, esconder e mascarar infligem danos irreparáveis à sociedade. E, como uma doença crónica, também os efeitos nefastos de políticas retrógradas e insipientes se manifestam dissimulados ou anos mais tarde.
Valladolid é para muitos um exemplo, assim como Bragança também o é e muitas outras cidades o são. E o exemplo pode ser bom...