Quebra na produção de castanha leva preço aos três euros pagos ao produtor
A produção de castanha em Portugal caiu a pique nos últimos cinco anos, passando de 43840 mil toneladas produzidas em 2019 para as 23825 colhidas em 2023. É uma quebra de quase 50 por cento na produção, que ganha especial relevo por coincidir com um aumento da área de soutos no mesmo período.
Se em 2017 havia 36459 hectares plantados com castanheiros, em 2023 eram 50585, mais 28 por cento.
Os dados são do Instituto Nacional de Estatística (INE) e foram compilados pelo Centro Nacional de Competências dos Frutos Secos, apresentados em Santarém, na semana passada, no III Balanço de Campanha dos Frutos Secos, uma organização da Portugal Nuts em colaboração com o Centro Nacional de Competências dos Frutos Secos (CNCFS) e o Centro Operativo e Tecnológico Hortofrutícola Nacional (COTHN-CC).
“Para recuperar os níveis de produtividade dos anos anteriores, teremos de ter uma atuação mais eficiente sobre as pragas e doenças que estão a assolar os castanheiros”, explicou Carlos Silva, vice-presidente do Centro Nacional de Competências dos Frutos Secos.
“Caso de consiga controlar melhor as pragas, poderemos crescer. Ainda há 10 a 12 mil hectares que ainda não estão em plena produção e só começarão a produzir em pleno em 2030”, frisou.
O mesmo responsável indica que “a queda de produtividade está relacionada com as pragas e doenças dos últimos cinco anos, associadas a algumas alterações climáticas”, especificou.
Para a campanha de 2024, o Centro Nacional de Competências antevê um grande aumento de qualidade face ao que se verificou no ano passado.
“A qualidade para este ano afigura-se bastante superior mas a produção andará muito próxima da que se verificou no ano passado, talvez ligeiramente superior”, antevê.
Preço a subir face a 2023
Certo é que os preços da castanha paga ao produtor têm estado a subir face ao que foi praticado no ano passado. Se em 2023 o preço médio se cifrou nos 1,5 euros, este ano a expectativa é que chegue aos três euros.
“A nível qualitativo, a castanha tem bom calibre e não tem problemas sanitários. Espera-se um ano com quebras. Em termos de preço, está acima do ano passado. Já está nos 2,5 euros, em média, quando no ano passado, por esta altura, andava em 1,5 euros. Quando o mercado começar a procurar castanha e não houver tanta quantidade, o preço irá subir.
Depois irá estabilizar. De qualquer forma, é um preço simpático. A perspetiva é que ronde os três euros”, disse ao Mensageiro Abel Pereira, da associação Arbórea.
Na Feira da Castanha de Vinhais, os preços praticados começavam nos quatro euros (a variedade longal) e 4,5 (a judia, que é maior).
“A castanha longal está a valorizar. O preço justo seria de pelo menos 3,5 a quatro euros. São precisos muitos tratamentos para uma qualidade boa”, dizia Patrícia Silva, produtora, da aldeia de Lagarelhos.
Já Silvana Nascimento, outra produtora do concelho, sublinhava que os ajuntadores “não vão pagar a um preço justo”. Ainda assim, acredita que “chegará aos três euros, porque há pouca”.
Tiago Morais, de Sobreiró de Cima, que, para além de produzir também compra, acredita que “o preço subirá”. “Paga-se mais a qualidade e o facto de haver menor quantidade. Ao produtor, a castanha temporã saiu a 1,5 euros. Esta rondará os 2,5 mas ainda é cedo para prognósticos”, apontou.
Certo é que os preços têm estado voláteis, ao sabor, também, da produção em Itália, que já recuperou da quebra acentuada desde o aparecimento da vespa da galha do castanheiro.
Consumo interno caiu
Portugal, apesar de ser um dos maiores produtores europeus de castanha, o consumo tem vindo a cair ao longo dos anos.
Passou-se de uma média de três quilos por ano per capita (por cabeça) para menos de metade (1,3).
No entanto, o valor das exportações tem subido. Ainda em 2023 subiram 222 por cento.
Espanha é o destino preferencial, com 5433 toneladas, sendo que, em 2023, a Itália foi o segundo, com 4099.
Em termos de valor indicam que para Espanha foram exportados mais de 10,6 mil milhões de euros.
As previsões para a atual campanha apontam para um grande aumento da qualidade fruto das condições climatéricas.
Em Portugal há cinco operadores principais que reúnem o grosso do volume de negócios, nomeadamente Alcino Nunes, a AgroAgruiar, a Monsurgel, a Agromontenegro e a Sortegel, responsáveis pelas principais operações de compra e revenda de castanha na nossa região.