Prevenir é melhor do que reciclar
Nos últimos anos, Portugal tem feito progressos assinaláveis na gestão de resíduos, sobretudo na recolha seletiva e na reciclagem. No entanto, há um ponto que continua a ser esquecido: a prevenção de resíduos, isto é, evitar que o resíduo seja sequer produzido.
A hierarquia europeia de gestão de resíduos é clara: primeiro prevenir, depois reutilizar, reciclar e, só em último recurso, eliminar. Está inscrita na Diretiva-Quadro Resíduos da União Europeia e transposta para a lei portuguesa através do Decreto-Lei n.º 102-D/2020, de 10 de dezembro.
Mas a realidade mostra outra coisa: continuamos a centrar políticas e campanhas quase exclusivamente na reciclagem.
É evidente que reciclar é importante. Mas, se a quantidade de resíduos continuar a aumentar, estaremos sempre a correr atrás do prejuízo. Portugal comprometeu-se, através do Plano Nacional de Gestão de Resíduos 2030, a reduzir em 15% a produção de resíduos urbanos por habitante até ao final da década. Este objetivo não se cumpre apenas com mais ecopontos: exige mudança de mentalidades, inovação nas empresas e coragem política.
Prevenir a produção de resíduos significa apostar em embalagens reutilizáveis, promover a reparação e a partilha, incentivar modelos de consumo circular. Significa também premiar quem reduz o desperdício e penalizar o uso de produtos e embalagens descartáveis. Para os cidadãos isto traduz-se em escolhas a tomar no dia a dia: levar um saco reutilizável, comprar a granel, dar uma segunda vida aos objetos. Para as instituições públicas implica dar o exemplo através de compras mais sustentáveis e da redução de produtos e embalagens descartáveis nos seus serviços.
Mais do que tecnologia, a prevenção exige cultura e consciência. É menos visível do que a reciclagem mas é a única forma de reduzir, de facto, a pegada ambiental.
Se quisermos deixar às próximas gerações um território mais limpo e sustentável temos de colocar a prevenção no centro da política ambiental. Porque, afinal, o resíduo mais fácil de tratar é aquele que nunca chega a existir.