Nordeste Transmontano

Casos de doenças do fígado preocupam cada vez mais

Publicado por António G. Rodrigues em Qui, 2023-11-09 17:36

Os casos de doenças hepáticas (do fígado) preocupam cada vez mais no distrito de Bragança, que tem, anualmente, cinco a seis doentes a necessitar de transplante.
Esse foi um dos alertas deixado no primeiro Congresso de Enfermagem de Medicina Interna da Unidade Local de Saúde do Nordeste, que decorreu sexta-feira e sábado, em Bragança.

“A doença hepática crónica é uma das principais causas de morte a nível mundial. Mas principalmente nas faixas etárias mais jovens é uma das principais causas de morte e anos de vida perdidos”, alertou Cristiana Batouxas, médica responsável por esta área em Trás-os-Montes.

“Aqui no distrito temos muitos casos. As principais causas são as hepatites víricas e sabemos que na nossa região temos dois estabelecimentos presidenciais, com uma população mais vulnerável e com mais incidência de hepatite B e C. Por outro lado, estamos numa região em que há um consumo excessivo de álcool e também sabemos que o álcool é a principal causa da doença hepática crónica a nível mundial e nacional e, também, da nossa região.

Por outro lado, a epidemia do século XXI, a Esteato Hepatite Não Alcoólica, que tem a ver com a deposição de gordura no fígado, e está muito relacionada com doentes com excesso de peso e diabetes, que também sabemos que é muito prevalente na nossa população. Por tudo isso, a doença é muito importante não só a nível nacional mas também na nossa região”, apontou a médica, em declarações ao Mensageiro.

Para mudar este cenário, aponta algumas mudanças necessárias.

“Temos de investir na consciencialização do consumo excessivo de álcool. A nossa região é produtora de vinho e curiosamente com mais consumo de vinho. Logo, temos de investir para a consciencialização da população para esse problema, perceber que tem consequências graves a curto e longo prazo.

Por outro lado, temos de investir em medidas de alteração dos fatores de risco cardiovasculares, nomeadamente da obesidade, do consumo de gorduras e prática de exercício físico, para prevenir a doença hepática metabólica. Por outro lado, temos de investir no diagnóstico e na prevenção das hepatites virais.

Sabemos que são mais frequentes em populações mas vulneráveis, nos reclusos, nos sem abrigo e nos utilizadores de droga. Mas sabemos que também afeta a população geral. E, na ausência de um rastreio geral, fazer um teste da hepatite B e C está dependente da iniciativa de cada um. Um dos lemas que tem sido mais reforçado nos últimos tempos é “faça o teste, pelo menos uma vez na vida””, frisou.

Cristiana Batouxas recorda que “hoje em dia” existem “ótimos tratamentos que nos permitem curar a hepatite C com tratamentos de oito a 12 semanas, com poucos efeitos adversos e com taxas de eficácia que rondam os 96 por cento”.

“São medicamentos de tal maneira bons, que a OMS [Organização Mundial de Saúde] lançou como meta até 2030 a erradicação das hepatites B e C. Claro que para isso é preciso investir na prevenção e no diagnóstico.

Em relação à hepatite B, temos uma das melhores taxas de vacinação da Europa e de rastreio pré-natal e isso tem, efetivamente, um reflexo no número de novos casos notificados, com uma diminuição progressiva no número de novos casos. O que acontece é que esta diminuição não é igual em todos os países e temos países em que a prevalência da hepatite B ainda é muito alta por ausência destes programas de prevenção.

Estes fluxos migratórios, e aqui temos um Politécnico que é dos mais internacionalizados, poderemos ver a realidade a alterar-se e temos de estar preparados para isso”, disse.

Quanto aos sintomas são, muitas vezes, “inexpecíficos”. “A doença pode progredir durante muito tempo de forma completamente assintomática e, mesmo quando existem sintomas, passam por mal estar geral, emagrecimento, náuseas, vómitos, aparecimento de icterícia já numa fase mais avançada ou líquido na barriga e inchaços dos pés. Mas isso já são sintomas que surgem quando a doença está muito avançada e nessa fase já pouco há a fazer em relação à causa”, concluiu.

 

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