Diocese

D. Nuno Almeida pediu aos fiéis, na Páscoa, para “caminhar, cantar, contar e compartilhar” a Palavra

Publicado por António G. Rodrigues em Qui, 2024-04-04 09:39

O bispo de Bragança-Miranda, D. Nuno Almeida, aproveitou as celebrações da Páscoa, as primeiras a que presidiu na diocese do Nordeste Transmontano, para pedir aos fiéis para “caminhar, cantar, contar e compartilhar” a Palavra de Deus.

“Temos aqui quatro verbos importantes para nós, neste Tempo Pascal, vivido em tempo de incerteza por causa das guerras e de tantas dificuldades na Igreja …:
1.Caminhar na companhia certa: não se aliar a dois inimigos invisíveis: a tristeza e o lamento, mas dando lugar central à Palavra de Deus, que é farol dos nossos passos e luz dos nossos caminhos. Caminhar na direção justa, regressando sempre a Jerusalém, à comunidade. Não queiramos voltar ao antigamente, andar para trás. Para a frente, é que é o caminho.

2.Cantar. “Quem canta seus males espanta”. O louvor é um antidepressivo fantástico. Em Tempo Pascal, precisamos de redescobrir o louvor, o canto, como exercícios de liberdade e de libertação.

3.Contar: discípulos ouviram. Contaram. Sorriram. Sentiram a capacidade contagiosa do bem repartido!… Importa, pois, não ficar “retido” no nosso canto. Contemos o que Deus tem feito por nós.

4.Compartilhar! Não desertemos de participar na comunidade cristã. Se queremos encontrar Jesus, não O procuremos mais fora de nós e da comunidade. Façamos comunidade, compartilhemos juntos as dúvidas e os medos, as alegrias e as esperanças, o Pão da Palavra e o Pão da Vida. Fora da comunidade, é difícil encontrar Jesus!”, sublinhou o prelado, na sua homilia, no Domingo de Páscoa.

“Caminhemos juntos! Conversemos, escutando e falando! Compartilhemos, comungando Cristo sempre vivo e presente no meio de nós!”, disse D. Nuno Almeida.
O bispo diocesano lembrou que “é para que Jesus seja encontrado, escutado, recebido como alimento … que existe a Igreja, presente nas dioceses e em cada paróquia”. “Não importa se grande ou pequena. Se vivermos o amor verdadeiro, Jesus está vivo entre nós e isto vale mais do que tudo resto que existe no mundo”, apontou.
“Em cada Domingo, vivamos esta Páscoa, no mistério da Eucaristia, onde cada família de sangue e a nossa família de fé se fazem e se refazem, nos seus laços de comunhão. Este não é o dia para uma fuga isoladora e individualista, para uma dispersão evasiva, mas o dia livre, inteiro e limpo, para o repouso maravilhado em Deus, que nos liberta o tempo e do tempo, para o darmos, na alegria do amor, à família, aos amigos, aos doentes e aos sós! Se guardarmos assim «o Domingo», também ele nos guardará o mais belo da Vida!

Precisamos de Páscoa!

Precisamos da Páscoa, assim como precisamos da Primavera depois de um Inverno tão chuvoso e longo.

Precisamos da Luz e da brisa suave do Espírito, que aqueçam e acariciem o nosso rosto e a nossa alma depois de tantos acontecimentos que porventura tenham ofuscado a vida pessoal e comunitária.

Precisamos de uma Vida nova, ressuscitada, que o tempo pascal nos traz, depois de tantos sinais de morte e de violência que continuam a afligir o nosso tempo e a nossa história.

Como Jesus ferido nas mãos, nos pés, no lado, aparece vivo, vivificando a vida dos discípulos duvidosos, das mulheres aflitas, dos apóstolos perdidos… assim, cada família e cada comunidade são abençoadas por sinais de ressurreição que brilham como estrelas no meio da escuridão da noite”, sublinhou o prelado.
Já na Missa Crismal, na Quinta-feira Santa, em que abençoou os Santos Óleos, que este ano foram oferecidos pelo presidente da Câmara Municipal de Mogadouro, António Pimentel, D. Nuno Almeida dirigiu-se ao clero da diocese.

“Há certamente consenso entre nós. Esta é mesmo a única maneira de podermos dizer quem verdadeiramente somos e qual a missão que devemos realizar. Por isso nunca será demais repetir palavras que soaram primeiro na boca de Isaías e de Jesus: “ungido, enviado, curar, libertar os cativos, dar vista aos cegos” e clarificamos ainda “enviado a anunciar a boa nova aos tristes, a curar os corações atribulados, proclamar redenção e liberdade aos cativos e prisioneiros, proclamar o ano da graça de Deus em que todos os pecados e débitos são perdoados, a proclamar a justiça de Deus, que salva, a consoar os aflitos”. De facto, bastariam estes termos para nunca esquecermos a beleza, a grandeza e a dignidade da nossa vocação presbiteral. Eu e vós somos os Sacerdotes do Senhor e a nossa Missão é clara e comprometida com a humanidade, comprometida com os mais frágeis e esquecidos, com últimos entre os últimos da humanidade. Os jovens, mais audazes e sedentos da bondade da humanidade, diante desta oferta vocacional não podem ficar indiferentes. Temos a missão de lhe dar a conhecer o verdadeiro sacerdócio”, frisou.

D. Nuno Almeida disse, ainda, que “o essencial do ministério sacerdotal é a unidade com Cristo e a unidade com os irmãos. A missão fundamental do padre é unir as pessoas a Cristo e entre elas, imitando o Bom Pastor”. “O padre é, portanto, alguém descentrado, centrado e concentrado. Descentrado de si mesmo, centrado em Cristo, concentrado na comunhão e no serviço a todos, procurando construir a unidade na diversidade”, frisou o bispo de Bragança-Miranda.

No final, D. Nuno Almeida ofereceu um gremial (toalha) de linho a todos os sacerdotes para ser usado na cerimónia do Lava-pés na Missa da Ceia do Senhor dessa noite.
Já na Missa da Ceia do Senhor, nessa noite, D. Nuno Almeida lembrou que a “Quinta-Feira Santa é, pois, um dia de gratidão e de alegria, pelo grande dom do amor até ao extremo, que o Senhor nos fez”. “Como testemunho do seu amor aos seus discípulos e à humanidade, na hora da despedida, Jesus não nos deixou uma lembrança, uma imagem, um dom memorável, um objeto querido de estimação, à maneira humana. O seu testamento é o seu sacrifício. E o seu sacrifício é Ele mesmo.

Eis o mistério admirável, maravilhoso da nossa fé: do Deus connosco, Deus para nós e Deus por nós! Que mais podia fazer Jesus por nós? Verdadeiramente, na Eucaristia mostra-nos um amor que chega “até ao extremo””, apontou.

Bispo defendeu a vida

O Tríduo Pascal prosseguiu na Sexta-Feira Santa, na catedral. Este ano, devido à instabilidade atmosférica, foi decidido não realizar a procissão de Enterro do Senhor, substituída por um momento de adoração na Catedral.

Nessa homilia, D. Nuno Almeida lembrou as guerras que assolam o mundo e defendeu a vida.

“Jesus aceita a cruz com liberdade e amor. Sobe ao calvário e desce aos infernos. Quais são hoje os nossos “calvários” e a que “infernos” urge o Senhor descer para salvar?

A nós também nos entrega ao mundo com a missão de não passar ao largo e olhar para outro lado perante os “calvários” e os “infernos” do nosso tempo. Perante as atuais cruzes e outros instrumentos de tortura e morte. Esses instrumentos chamam-se hoje: guerras, fome, prepotência, dominação, escravidão, indiferença e falta de vontade real e eficaz de baixar da cruz a tantas pessoas crucificadas.

Ontem, na televisão, uma jovem sobrevivente do terrível atentado de Moscovo, lançava um forte e emocionado apelo: sejamos mais bondosos e mais humanos uns para com os outros, não esperemos por momentos dramáticos como aquele que vivemos!

Logo a seguir, os meus olhos encheram-se de lágrimas e do meu coração brotou uma oração de clamor perante as imagens de um bebé desnutrido num dos miseráveis hospitais de Gaza. Mas são tantas as crianças que agora ali morrem de fome e vítimas das armas. E são tantos outros os “calvários” e os “infernos” do nosso tempo!
Cristo foi morto injustamente e, por isso, temos obrigação de dizer que quem ofende e suprime a vida do Homem ofende e suprime a Cristo. Não nos calemos para defender a dignidade da vida”, disse. “A celebração de Sexta-feira Santa ensina-nos que há três tipos de sofrimento: o que nós provocamos ou sofremos por causa dos outros, o sofrimento que está na natureza, o sofrimento necessário para um bem maior – o primeiro há que evitá-lo sempre, o segundo há que aceitá-lo, o terceiro é preciso assumi-lo corajosamente. A dor faz parte da vida. O mais importante é o modo como enfrentamos o sofrimento. A atitude que temos está do nosso lado. Porque é que Jesus suportou tanta dor? Por amor! “Ninguém tem maior amor do que quem dá a vida pelos amigos” (Jo 15, 13)”, acrescentou ainda.

Já no Sábado Santo, D. Nuno Almeida procedeu ao batismo, primeira comunhão e crisma de nove adultos. Os três sacramentos da iniciação cristã (baptismo, primeira comunhão e confirmação) foram administrados a nove  jovens que fizeram o tempo de catecumenado na Paróquia de S. João Baptista, em Bragança. São portugueses, de Angola e da Guiné-Bissau.

No dia seguinte, foi a vez de um recluso do Estabelecimento Prisional de Bragança receber, também, os três sacramentos.

Aos jovens, D. Nuno Almeida disse que “Cristo vive e ama cada de vós infinitamente”. “Como gostaria que este anúncio chegasse a cada um de vós e que todos o sentissem vivo e verdadeiro na própria vida e tivessem o desejo de o partilhar com os seus amigos! Sim, porque tendo recebido o Batismo, a Eucaristia e o Crisma tendes esta grande missão: testemunhar a todos a alegria e a esperança que nascem da amizade com Cristo. Na vida de cada dia ireis fazer tudo com o propósito maior de amar como Jesus Cristo!, sublinhou” o prelado
 

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