Mogadouro

Deslocados ucranianos integrados na sociedade mogadourense meio ano após a sua chegada à região

Publicado por Francisco Pinto em Qui, 2022-10-13 10:39

As cerca de três dezenas de deslocados de guerra provenientes de vários pontos da Ucrânia, que chegaram a Mogadouro em abril passado, começam a integrar-se na sociedade local e alguns pensam já em aprender português e ficar pela região.

Os deslocados são, na sua esmagadora maioria, mulheres e crianças, com idades entre os dois e os 50 anos.

Estas pessoas já se entrosaram no dia a dia desta vila do distrito de Bragança, onde o principal entrave é mesmo a língua portuguesa. Cinco destes deslocados já se integraram no mercado de trabalho, com a autarquia a ser o principal empregador onde exercem diversas tarefas e 15 crianças frequentam o agrupamento de escolas de Mogadouro.

Os deslocados partiram da Polónia em 21 de abril num novo voo humanitário de apoio à Ucrânia da responsabilidade da Associação Ukrainin Refugees (UAPT) e chegaram a Mogadouro no dia seguinte, ficando alojados no centro de acolhimento local certificado pelo Alto Comissariado para as Migrações.

Cerca de três dezenas de pessoas ficaram em Mogadouro para fugirem a uma guerra que parece não ter fim à vista.

As saudades da Ucrânia são muitas, mas a vontade férrea em começar uma nova vida poderá estar no mesmo patamar de objetivos futuros.

Apesar das indecisões ou certezas destes deslocados, os mesmos garantem que foram bem acolhidos e que Mogadouro, que consideram “uma vila simpática e acolhedora onde a guerra está muito longe”, ficando as muitas saudades dos amigos e da família.

Do lado da autarquia mogadourense, que acolheu estes deslocados de guerra, a garantia “é a de que tudo está a ser feito para que haja uma boa integração destas pessoas”.

“Aquilo que me tenho apercebido ao longo deste meio ano é que, tratando-se de um grupo de crianças e jovens na sua maioria, tem levado tempo para trilhar o caminho certo, na medida foi necessária uma integração dos mais jovens, tanto em ambiente escolar como social”, enfatizou o presidente da câmara, António Pimentel.

De acordo com o autarca, o executivo municipal já havia aprovado uma verba de 200 mil euros para fazer face aos primeiros gastos com o atendimento destas pessoas.

“A integração tem corrido muito bem. É evidente que há um esforço muito grande por parte da autarquia para dar a estas pessoas tudo aquilo que a guerra no seu país os privou”, enfatizou.

António Pimentel destacou que há já cinco pessoas que estão a prestar serviços à própria autarquia, “o que é sinónimo de que tudo se faz para que haja uma boa integração não sociedade que os acolheu”.

O autarca social-democrata lembrou que Portugal é um país de emigrantes e que quando se tratava de pessoas da segunda geração começava a haver “interações” com a população e muitos deles começaram mesmo “a casar”.

“Creio que poderá haver pessoas que são deslocadas [de guerra] que possam vir a constituir família em Mogadouro, sendo percetível algumas aproximações entre residentes locais e ucranianos”, observou.

António Pimentel destacou, ainda, as visitas regulares de responsáveis pelo Alto Comissariado às Migrações ao centro de acolhimento para verificar “in loco” como todo o processo de integração se está a desenrolar.

O autarca referiu ainda que a vinda destes deslocados de guerra “está a gerar impacto na economia local”.

No que respeita à integração dos mais jovens em ambiente escolar tudo foi feito para que tentar que o ensino seja o mais eficaz possível.

Mafalda Rocha, diretora do agrupamento de escolas de Mogadouro disse que os alunos vindos da Ucrânia, chegaram já no final do ano letivo e, neste momento, estão todos em conformidade com a legislação para frequentar o ensino em Portugal.

“A escola contratou um professor para lecionar a disciplina de língua não materna para começarem a aprender português. A nível informático foram preparados computadores com teclado em ucraniano. Os alunos já começam a falar português um pouco envergonhados”, indicou a também docente.

De acordo com a responsável, há pelo menos um aluno que terminou o secundário com as respetivas correspondências do seu país natal e que pretende seguir os seus estudos no Instituto Politécnico de Bragança (IPB).

A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas – mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,6 milhões para os países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

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