A opinião de ...

O macho do Má Cara

Julgo que o senhor cuja alcunha era o «Má Cara» teria como apelido Gonçalves, exercia a profissão de carroceiro levando e trazendo encomendas da Estação de Caminho de Ferro emparceirando com outros colegas, sem esquecer as pequenas encomendas reservadas aos marçanos alvo de sórdida exploração pelos comerciantes amassadores de fortunas e, ainda, o Belisário dono de voz de socarrão aguardentada logo pela manhã.
O Senhor Má Cara possuía um animal – o macho – esperto, teimoso, sonolento, taciturno, mesmo quando recebia carícias de matar moscas, distribuídas ao longo do lombo e das ancas prodigalizadas pelo amo.
O macho nas antípodas de Platero detestava brincadeiras, quando era obrigado a subir a rua dos Oleiros e do Tombeirinho (façam o favor de as descobrir), descer a rua Direita, subir a Costa Grande e demais vias sinuosas e íngremes não raras vezes metia a marcha atrás, sapejava, só lhe faltava falar imitando o liberto Sultão trazido para a perenidade secular através da caneta ou da pena não de chorar, sim de escrever, do Senhor Trindade Coelho.
As teimosias e caprichos do macho levaram a servir de chiste no vocabulário iracundo, irreverente, irónico, muitas vezes insolente, dos bragançanos devotos e não devotos, de todas as condições, geneticamente atreitos ao dichote, à piada ferina, à máxima exploração do ridículo.
Por tudo isto, verificar que o fundamentalista ministro do lítio e do hidrogénio ser apanhado num automóvel estatal movido a combustível fóssil, a 200 à hora, obriga-me a elogiar o prudente macho do Senhor Má Cara, pois preferia receber vigorosas admoestações a ultrapassar o limite de velocidade, a infringir as regras de trânsito, cumprindo escrupulosamente as indicações do sinaleiro Alfredo de boa memória.
O ministro Matos Fernandes parece apostado em tirar a deixa asneirenta ao tristemente famoso Eduardo Cabrita. Será?

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3843

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