A opinião de ...

Fazer frente aos amigos

Após quase dois anos de vida “entre parêntesis” e face aos nefastos acontecimentos que se observam no mundo de hoje, com epicentro na Ucrânia e sequelas que se repercutem na nossa existência, parafraseando aquele que é um dos mais famosos romances de John Steinbeck, parece que depois de um inverno do nosso descontentamento, a primavera não dealba de maneira distinta.
Quando a vida é difícil e a sensação de frustração ronda por perto, há descontentamento.
O descontentamento sente-se, sobretudo, porque não se vislumbra uma visão de futuro motivante e agregadora, um rumo certo e claro, uma afirmação de estratégia e de um arregaçar as mangas para dar sustentabilidade e fazer desenvolver o nosso País.
Serão várias as causas, diversificados os fatores e múltiplas as responsabilidades, de personalidades e instituições.
Não é assim quando vemos o “bem” dos Bancos (ou a dívida deles) ser colocado acima da vida das pessoas? Quando constatamos que os corruptos e os incompetentes pululam alegremente? Quando na distribuição da riqueza não se acentua o bem comum, os princípios da liberdade igual, da oportunidade justa e da diferença? Quando vemos o Estado a falhar naquelas que são as suas mais elementares funções como a dos cuidados de saúde? O que falha nesse destino sonhado de outro modo por todos nós?
Por isso, a todas aquelas e aqueles que ontem tomaram posse no novo Governo, o XXIII Governo Constitucional, é-lhes exigido o compromisso do maior empenho, qualificação e responsabilização possível ao serviço dos fins comuns às pessoas que integram o nosso país, pondo em prática boas políticas públicas, no respeito pelos valores fundamentais da verdade, da liberdade, da justiça e da paz.
Neste novel ciclo político, abrindo-se uma nova etapa, pedimos que, de uma vez por todas, não embarquem no discurso demagogo e populista de que estamos sempre a crescer e é tudo perfeito. Era mesmo suposto que Portugal já estivesse bem melhor face aos apoios financeiros recebidos da União Europeia, mas tal não tem sucedido e acabará por ser impossível esconder o rei nu!
Se não constate-se: a diminuição da dívida pública, não resolvida! A questão demográfica, não resolvida! A produtividade, não resolvida! O despovoamento da área territorial não litoral do País, não resolvido! A falta de habitação, não resolvida! A precariedade do emprego, não resolvida! A criação de condições para a fixação de jovens, tão qualificados, não resolvido! A sustentabilidade da segurança social, não resolvida. A implementação da descentralização, não resolvida!
Por outro lado, face a um certo centralismo e ao desfilar de protagonistas da “corte de Lisboa”, com dois ex-presidentes da Câmara Municipal de Lisboa, um ex-vice-presidente, familiares de ministros e ex-deputados com carreira política e profissional em Lisboa, pedimos também que o sentido das palavras do professor Albus Dumbledore, em Harry Potter e a Pedra Filosofal, que são muito interessantes, se aplique de modo muito assertivo à situação política atual do Governo “é necessária muita fibra para enfrentar os nossos inimigos, mas não é preciso menos para fazermos frente aos nossos amigos”.
Daqui se considera tão premente que não seja desperdiçado mais tempo nem a oportunidade de se fazerem as reformas necessárias e urgentes e os investimentos imprescindíveis a fim de não andarmos, como quase sempre andamos, a correr atrás do prejuízo!
Na verdade, tem sido quase sempre assim e quase sempre a reboque da atenção mediática como os problemas da escassez da água ou mesmo da seca, dos incêndios, da produção e segurança alimentar, do despovoamento, etc. Quando deixam de ser temas mediáticos deixam também de merecer a atenção política resolutiva!
Portugal e os portugueses precisam do melhor dos nossos políticos

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