Todo o escuteiro deve ter uma religião Sê jogador na equipa de Deus
Há duas expressões recolhidas pelo Pe. Jacques Sévin e que as ouvi ao Cónego Belarmino Afonso: “as asas dos anjos não fazem parte do uniforme” e “não esperemos descobrir um santinho de porcelana debaixo de um chapéu de escuteiro”.
O uniforme e as insígnias continuam a ter o seu interesse na captação dos jovens, mas para lá dos farrapos há um incomensurável tesouro, do qual o escutismo tem a carta e o dirigente a missão de ensinar a ler, para que o escuta descubra e alcance por si o brilho das joias, seja ele no campo da fé, ou dos valores, como o altruísmo, a abnegação, a coragem… Quando se dá mais interesse à farda é caso para se dizer como nas redondilhas dizia Camões: “por cousa tão pouca/ andas namorado? / Amas o vestido? / És falso amador.
Geralmente quando assim acontece começam por surgir as “relações pouco católicas” entre direções de agrupamento e párocos, e a primeira a levar com a culpa é geralmente quem a não tem: “infelizmente o escutismo depende muito das ordens da Igreja”. Não se encara seriamente o problema e volta-se, vezes sem conta, à redondilha: “deixas a mi// por cousa tão vil!/ Terá bem que rir,/ pois amas beirame/ e, a mi não, Joane”.
Quantas vezes nos esquecemos de rezar e “pedir a graça de não sermos cristãos mornos, que vivem de meias medidas, que deixam o amor esfriar”. Sim é de amor que se fala, pois quem vive seriamente, e se entrega aos outros e às causas, ama sem detença. Um conhecido dirigente do CNE referia à comunicação social, que compreende que o escutismo sendo “um movimento da igreja, os miúdos tenham de ir à missa, mas é preciso perceber que a sociedade é muito diversificada e que eles não devem ser colocados de parte por isso”, ou como remata o título do artigo: “um escuteiro não deve ser obrigado a ir à missa”.
Quantos dirigentes não tiveram a felicidade de ter uma avó como a do Papa Francisco que depois de perguntar ao neto o que achou da Missa e de ele responder que era chata ainda lhe dava pipocas doces e gelado no final.
A vivência ativa da fé cristã, nomeadamente na infância e na juventude, ajuda a acumular cultura, saber, o que dá maior autonomia e poder de decisão. Ter fé e dela participar ativamente não é, como às vezes erradamente se pensa, combater o pluralismo é reforçá-lo com cidadania ativa, opinião formada e esclarecida, é oferecer valores para aumentar a coesão e reforçar o tecido social.
O Pe. J. Sévin defendia, para se ser escuteiro, à maneira dos seus fundadores, é necessário ser-se crente, de adesão prática a uma fé definida, confessional, pois «o que é essencial no escutismo é ser-se crente, religioso e praticante», ou não fosse Baden-Powell a ter dito que “o homem de pouco vale se não acreditar em Deus e obedecer às suas leis. Por isso, todo o escuteiro deve ter uma religião”, “sê jogador na equipa de Deus”.