Bragança

Médico explica que a morte de Giovani resultou de um trauma mas não especifica se teve origem em agressão ou queda

Publicado por Glória Lopes em Qua, 2021-03-03 20:36

O médico responsável pela autópsia ao corpo de Luís Giovani Rodrigues, o estudante cabo-verdiano que morreu no hospital após ter estado envolvido numa rixa na madrugada de 21 de dezembro de 2019, confirmou na quinta sessão do julgamento, esta quarta-feira, que está a decorrer em Bragança, que a morte do jovem de 21 anos foi devido a um traumatismo craniano frontal do lado esquerdo, mas que não pode estabelecer uma causalidade direta com a sua origem, porque o hematoma, de grande dimensão, que apresentava era compatível com um embate num objeto estático ou o resultado de uma lesão provocada por alguém. Ainda que tenha realçado que se o jovem tivesse caído, o traumatismo só podia resultar do embate com uma estrutura e não apenas de uma mera queda nas escadas da Travessa dos Negrilhos, via que os jovens estudantes percorreram para fugir do local onde decorreu a escaramuça. O perito também não garantiu que a lesão tenha resultado de uma agressão. O perito deixou as duas hipóteses em aberto, tal como já tinha sucedido com o relatório da autopsia.
O médico, José Fernandes, que falou em sede de julgamento por videoconferência, num depoimento de cerca de 3 horas, ainda explicou que na altura da autópsia o corpo não apresentava outras lesões ou cicatrizes, ressalvando, no entanto, que como já tinham passados dez dias (o tempo correspondente ao internamento do estudante no Hospital de Santo António, no Porto), dava tempo para sararem se as tivesse. Além disso, o clínico esclareceu que alguns hematomas mais ténues podiam não ser já visíveis porque pelo do jovem era escura. "Objetivamente não posso dizer, mas como passam dez dias era tempo era suficiente cicatrizar e não há registos clínicos. Como não estão registadas não posso fazer um nexo de causalidade" , explicou, acrescentando que não há outra lesão de caracter traumático senão a frontal, existindo hematomas no couro cabeludo.
Sete homens, entre os 24 e os 36 anos, estão a ser julgados em co-autoria por um crime de homicídio qualificado, cuja vítima foi Luís Giovani, e três crimes de ofensas à integridade física sobre os outros três estudantes que acompanham o jovem na madrugada dos acontecimentos.
Américo Pereira, advogado de um dos arguidos, admitiu no final da quinta sessão do julgamento que esperava que o perito, que elaborou o relatório da autopsia, esclarecesse as dúvidas, o que não aconteceu. “Há qui um problema que está a inquinar este trabalho. A acusação diz que sete rapazes agrediram quatro jovens cabo-verdianos, a murro, pontapé, cinto e paus e enumera as agressões pelo corpo todo que o rapaz [Giovani] apresenta, e diz que foram estas agressões que o levaram à morte, mas a autopsia diz que o Giovani só tem um único ferimento na cabeça”, referiu o causídico. “Perdeu-se a oportunidade na investigação de esclarecer como foi feito o ferimento, do local onde se deu a primeira contenda até ao local onde o jovem foi encontrado desmaiado são centenas de metros, há um percurso que era preciso averiguar ”.

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