Chega? Não, não chega, já sobra!
A propósito da palavra “chega”, alerto para a circunstância de que, como em todas as línguas do mundo, também a nossa língua tem as suas especificidades, as suas curiosidades e, não raro, também as suas ratoeiras.
Porque a palavra “chega” tanto pode ser um substantivo singular feminino, como uma “chega” de touros, como uma forma do verbo chegar, para protestar contra o oportunismo, a incompetência, a caturrice e a falta de respeito para com os direitos das outras pessoas e expressar o desencanto e a repulsa contra a incompetência, o oportunismo, a caturrice e a falta de respeito pelos direitos das outras pessoas, dizer claramente à camarilha de parasitas que se instalou na política e se julga a dona do poder, do saber e da verdade, que já “chega”, aproveitando para lhes sugerir que, enquanto ainda for tempo, aproveitem as oportunidades para se auto reciclarem, antes que a história os envie para os centros de compostagem do lixo doméstico.
Para que não restem dúvidas sobre o seu significado, especialmente para os mais distraídos que não saibam distinguir um substantivo dum adjetivo ou dum verbo, no caso vertente, “chega” é a terceira pessoa do singular do presente do indicativo do verbo chegar.
Decorrido praticamente um ano, como se não houvesse mais vida para lá das eleições, a pressão desenvolvida sobre o dilema de “eleições sim ou eleições não” foi tão grande e a maneira vergonhosa como se tem vindo a abusar da paciência dos eleitores foi tal, que, e não há como nega-lo, ultrapassou todos os limites da racionalidade.
Para evitar que as eleições, enquanto a essência da democracia, continuem a banalizar-se como tem vindo a acontecer, até se transformarem no reino da chacota e na fonte das piadas de estremo mau gosto, o que as poria ao alcance e ao serviço dos muitos oportunistas e arrivistas de última hora, mal intencionados, sem vergonha nem escrúpulos, capazes de se apoderem delas e de as manipularem em proveito dos seus interesses, antes que seja tarde demais, é chegada a hora de, duma vez por todas, o país se mobilizar e repetir até à exaustão “chega” a terceira pessoa do singular do presente do indicativo do verbo chegar.
Porque a continuar tudo assim, o país nunca mais irá a lado nenhum, é urgente alertar todos os responsáveis que potenciaram a crise de identidade em que o país se encontra, fazendo-lhes perceber quanto estamos desiludidos, fartos e saturados de eleições e mais eleições, cansados de ouvir sempre as mesmas promessas nunca cumpridas, as mesmas patetices sem sentido, as mesmas tretas charlatanescas e as mesmas idiotices e anedotas, fazendo-os compreender que, definitivamente, a paciência se esgotou.
Para que não restem dúvidas a ninguém, porque as coisas foram de tal maneira longe, que cheiram mal que tresanda, duma vez por todas, com toda a clareza e sem meias palavras repetir até à exaustão, que já chega.
(Continua)