A opinião de ...

O Facilitador

Os militantes do PSD elegeram Rui Rio convictos de ser o melhor para afastar o Partido Socialista do poder (abrindo espaço para os sociais-democratas), contribuir decisivamente, como o próprio assumiu, para acabar com a esquerdista geringonça ou, no mínimo, liderar inequivocamente a ala direita da política portuguesa.
Tenho Rui Rio por homem sério e bem intencionado. Mas tal não basta para ser escolhido pelos portugueses para substituir António Costa, nem tão pouco para garantir a realização dos almejados propósitos com que se comprometeu
É por demais sabido que não é denegrindo quem detém o poder (sem que haja forte adesão à realidade) que se constrói uma alternativa séria e credível. O líder do PSD esteva bem no apoio ao Governo e à sua liderança durante a pandemia. O sentido de Estado assim o exigia e, podendo embora render apoios, a crítica fácil seria, na altura, antipatriótica. Estragou tudo ao atrever-se a ir mais longe que o poder estabelecido reduzindo, quase ao ridículo, a prestação de contas do Governo na Assembleia da República! Ninguém deve candidatar-se a um lugar, por demais apetecível, querendo, preventivamente, alijar algumas das potenciais “dificuldades”. Submeter-se ao escrutínio dos representantes do povo, faz parte da missão do Primeiro-Ministro. Para tratar da governação, em concreto e setorialmente, estão os ministros e toda a máquina estatal. O líder é para definir o rumo e responder, por ele, perante quem de direito. Se Rui Rio acha esse dever incomportável... então que dê lugar a quem não ache!
Tendo apoiado o Governo no auge da pandemia, não se entende que tenha votado contra o orçamento. Ninguém duvida que esta situação será muito melhor (mesmo admitindo não ser a ideal) do que governar com duodécimos, numa época especialmente crítica por todas as razões (Recuperação económica urgente, impossibilidade de alternativa política e presidência da UE). Todos entenderiam a abstenção. Que era, tudo o indica, a melhor forma de dar uma machadada na geringonça. Se o PS tivesse a aprovação do orçamento garantida não seria tão “compreensivo” com as exigências do PCP, que gostaria de repetir o voto do último retificativo. Não o fez porque não quer provocar uma crise. Ninguém quer. O próprio BE só à última hora resolveu votar contra. É verdade que Costa disse que quando o seu Governo dependesse do PSD estaria acabado. E é por esse motivo que o PSD reprova a proposta orçamental?! A atuação do PSD ficou condicionada pelo discurso de António Costa? A sério???
Esta semana, perante o anúncio das condições do Chega, a nível nacional, para uma possível, e desejada coligação nos Açores, sem um repúdio imediato do PSD nacional deu à extrema direita o que os eleitores lhe negam! Quando Rui Rio anunciou a possibilidade (mesmo que condicionada) de coligação com o Chega, ofereceu a André Ventura a oportunidade, indeclinável, de a poder recusar. Haver negociações, com o seu partido, para uma coligação de direita, no arquipélago é mau, mas assistir-se ao anúncio, a nível nacional, das condições para a sua concretização, sem a imediata rejeição do Secretariado laranja, era suposto ser impensável!
O Chega sabe muito bem que não pode aspirar a ver aprovada qualquer lei, recomendação e muito menos uma “determinada” Revisão Constitucional. Não é isso que procura. Apenas quer ser relevante, ter importância, ser levado a sério. Não pode ser o PSD a dar-lhe esse estatuto. Não deve ser Rui Rio, o seu facilitador!
Ascender ao poder nos Açores não pode ser a justificação para a eutanásia partidária. Ninguém, de bom senso, abdica da promessa de um porco futuro... por uma salsicha envenenada, mesmo que imediata.

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