A opinião de ...

A Distância

A distância acabou por ser
Gradual, sistemática, duramente perseguida,
Seguidamente alcançada, firmemente capturada,
Terrivelmente domada, severamente oprimida,
Excecionalmente explorada…
Para, triste, sentida e doente,
Manifestar o desejo de retomar
O descanso que lhe roubámos, paulatinamente!

Utilizámos, além da humana passada,
O autocarro, o comboio, o automóvel,
A bicicleta raiada, o dirigível, o teleférico
E o ronceiro elétrico.

Utilizámos o avião e o foguete,
O barco, a caravela, o navio, o vento e a vela,
Além do velocíssimo vaivém,
Que logo nos levou a pensar dele bastante bem.

Utilizámos o telefone e o telégrafo,
A rádio e o telefaxe,
E aquela que em tudo se intromete
– A muito utilitária, mas bisbilhoteira internet.

Utilizámos o fogo e o sol
Pra neles nos derretermos;
A água dos rios e da imensidão do mar,
Para nela, quantas vezes, nos perdermos!

Utilizámos a nossa astúcia, os animais que dominámos
E os – incompreensivelmente! -
Humilhados, pisados e desprezados milhões de escravos.

Casámos o nosso pensamento com a nossa ambição,
A nossa criatividade e a nossa inteligência.

Agarrámos, com toda a eficiência,
A nossa vontade para orientarmos, a contento,
A nossa força física e anímica, bem como o nosso tempo.

Finalmente, definimos, pela mente e pelo braço,
O nosso espaço.

Entretanto, lentamente, fomos perdendo:
O silêncio e o sossego, a estabilidade,
A sociabilidade e aquele já tão precário
Sentimento gregário.

Fomos perdendo a desinteressada amizade,
A palavra honrada, o valor da verdade,
A subida interação com todo o semelhante,
O belo da Natureza e o lindo sentir da vida
Que brutalmente se despreza.

De seguida, também lentamente,
Fomos perdendo o gosto de viver
No meio de tanta maravilha
Que a Terra nos oferece e prodigamente brilha.

E fomos, arbitrariamente, criando:
A fome, o terror, as ciladas e a guerra,
A mentira, a perfídia e a traição…
Todo um conjunto de males que ferozmente afetam
Quem está sujeito a tanta servidão!

Contudo, sem grande ressentimento ou lamento
Para quem lhe tem causado tanto mal
E votado tal desprezo que a fez dorida
Gravemente ferida, às vezes exausta, quase sem vida,
Chorando e dando, a cada momento,
Graves sinais de enorme sofrimento
Pelo grande oscilar das águas do mar,
Pelo ímpeto do fogo que lhe vem golfado das entranhas
Pela invencível força do vento que trespassa montanhas,
Pela secura do deserto da grande imensidão,
Pelo furor que lhe vem dos céus em fogo e em trovão,
Em chuva, granizo e neve,
Pela escuridão da noite que a cegueira manteve,
Por um futuro terrivelmente incerto,
A Terra vai sofrendo e vai morrendo
Conquanto do longe se tenha feito o perto!

Edição
3973

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