A INVASÃO DE REFUGIADOS VISTA PARA ALÉM DO DRAMA DO MOMENTO
A invasão da Europa por milhões de pessoas que fogem de países afetados pela guerra é uma catástrofe humanitária. Estamos a falar de um fenómeno que só é comparável com o que se passou durante a segunda grande guerra mundial. Com os tumultos que se verificam no Médio Oriente e em vários países de África, a Europa foi escolhida como o destino preferido e a desigual distribuição destes refugiados transformou-se na grande questão política do momento e é um verdadeiro teste à solidariedade europeia.
Esta invasão que atinge a Europa tem sido gerida como um drama, como uma questão de urgência, que também o é. Todavia, na minha opinião, o problema carece de uma visão que esteja para além dos momentos que estamos a viver. O fenómeno da imigração na Europa precisa de uma visão de longo prazo.
A Europa é, de todos os continentes, aquele em que a idade média é a mais elevada, 38 anos. Em meados deste século essa média será de 52 anos enquanto, por exemplo, nos Estados Unidos será de 42 e, em todos os outros continentes, ainda será mais baixa.
O Departamento das Nações Unidas responsável pelas questões demográficas prevê que a União Europeia embora veja crescer a sua população nas próximas décadas, refere que esse crescimento irá ser acompanhado por um significativo declínio na população entre os 15 e 64 anos. De acordo com essas previsões este grupo irá decrescer à volta de 47,9 milhões de indivíduos até 2050, isto é, um decréscimo de mais de 14%! Este declínio da força de trabalho vai afetar todos os Estados Membros da União, mas especialmente aqueles em que a taxa de fertilidade tem sido muito baixa, como é o caso da Alemanha em que a população entre os 15 e 64 anos irá baixar em cerca de 25%. Isto pode explicar a relativa tolerância da Alemanha com o acolhimento de refugiados.
A União Europeia vai entrar assim numa fase em que a força de trabalho diminuirá de forma significativa, o que irá conduzir a situações complexas como é o caso do financiamento dos sistemas da segurança social. A forma de contornar o problema terá forçosamente de passar pela entrada, nas próximas décadas, de milhões de imigrantes para oferecer à economia europeia a força de trabalho que necessita.
Uma visão de médio prazo que defina uma política de imigração em que a gestão dos fluxos populacionais possa ser feita de modo coordenado, que tenha em consideração a situação económica e demográfica da Europa, que seja desenvolvida em cooperação com os países de origem e que beneficie de instrumentos capazes de facilitar a integração dos migrantes no tecido social do destino é algo que se tem de tornar uma grande prioridade da política europeia.
Outra questão é saber de onde devem vir esses imigrantes? Da parte oriental da Europa não será porque a maior parte dos países em causa, para além de na sua maioria fazerem parte sda União Europeia, as suas economias estão a crescer a bom ritmo, a população também tem tendência para decrescer e portanto, a prazo, estarão confrontados com o mesmo problema de toda a Europa. A situação é muito diferente nos países do Médio Oriente e do Norte de África, em que os mercados de trabalho não estão em condições de oferecer empregos adequados para os mais jovens, cujo número e níveis de qualificação estão a crescer.
O aumento da mobilidade da força de trabalho para a Europa com origem no Médio Oriente e do Norte de África tem assim deixar de se apresentar com o ar de invasão em massa e desordenada, que é o que hoje acontece, mas terá de continuar a ter lugar de forma mais organizada e planeada, porque é a resposta inteligente à falta de força de trabalho na Europa e à escassez de oferta de emprego nos países de origem. É o que se chama um jogo em que todos ganham, porque contribui para o crescimento das economias, para o aumento da prosperidade e para a paz.