Nordeste Transmontano

Bragança vai ter campo experimental da cultura Celta já este ano

Publicado por António G. Rodrigues em Qui, 2024-01-11 14:22

A aldeia de Salsas vai receber um assentamento Celta chamado Brigantia ainda em 2024. O projeto está a ser desenvolvido pela atriz Ana Telmo Rocha, natural de Salsas, e inclui parceiros do Reino Unido, como o ator irlandês Patrick McEvoy, que participou na série Vikings e que vai ser “o rei de Brigantia”.

“Temos um projeto de criar um campo céltico em Bragança onde vamos explorar as nossas raízes celtas e vamos dizer ao mundo, ao resto das nações celtas, que Trás-os-Montes também é celta. Vai ser um trabalho muito interessante, com a criação de um campo em tempos modernos onde as pessoas podem viver como os celtas viviam. É um campo experimental”, explicou a atriz ao Mensageiro.

Será “um museu vivo, onde as pessoas podem comer comida celta, que é muito transmontana, podem vivenciar a natureza, pois os celtas têm muitos deuses ligados às árvores, ao solo, à água”, disse ainda.

“Vamos mostrar aos povos do Norte as semelhanças que tivemos, em época pré-cristã”, frisou Ana Telmo Rocha, que tem alternado entre Bragança e o Reino Unido, onde mantém trabalhos no teatro.

A ideia surgiu de uma conversa com uma professora numa universidade irlandesa.

“Aconteceu estar a falar com uma professora de uma universidade irlandesa e ela disse-me que, se sou de Bragança, devo ser de uma tribo chamada Brigantes. Começou aí uma história, juntou-se imensa gente para fazer um projeto e, por acaso, temos um sítio que se chama Bragança, uma cidade que é capaz de ser Celta”, explicou Ana Telmo Rocha.
O primeiro espetáculo está previsto para 01 de maio. “Será o primeiro Beltain, o solstício de verão em Trás-os-Monte. Todos os anos queremos realizar um solstício de verão em Trás-os-Montes”, precisou.

Para além do ator Patrick McEvoy, integram o projeto um druida cantor e um violinista da London Orchestra Philarmonica. “Vieram cá uma vez e ficaram apaixonados por Trás-os-Montes”, conta Ana Telmo Rocha.

Esta ideia foi dada a conhecer ao Mensageiro durante o desfile de caretos e celebração das tradições do dia de Reis na aldeia de Salsas, no passado sábado.

Este ano, participaram 17 grupos de caretos de vários pontos do país e do estrangeiro, como Espanha e Irlanda, com um total de 156 mascarados.

“Criámos uma estrutura que representa as festas de inverno e do solstício. Foi um ano mais animado, mais participação, com mais grupos (17). Foi um ano em que houve muita alegria e muitos chocalhos”, frisou Filipe Caldas, presidente da Associação dos Caretos de Salsas e percursor desta tradição.

“Este ano até veio um grupo irlandês. Tivemos um grupo de teatro a fazer um ritual, grupos de Trás-os-Montes, de Góis, de Espanha e um grupo da Irlanda”, frisou.
Ao contrário de anos anteriores, desta vez a figura que foi queimada era um símbolo celta e não um mascareto.

“Este símbolo é referente às festas de solstício de inverno, ligado aos rituais celtas”, explicou, e o desenho foi do ator irlandês Patrick McEvoy.

“É um ‘trisky’. Mudou ao longo dos anos. Aparentemente, os druidas utilizavam-na como uma jóia para alcançar a quinta dimensão. À medida que os anos foram passando, foram dizendo que era para simbolizar o poder das árvores e a união entre homem e natureza. O três é um número muito poderoso. Três árvores fazem uma pequena floresta”, explicou McEvoy.

O ator irlandês encontra “muitas semelhanças” entre os povos da Irlanda e de Portugal. “Acho que as duas culturas são muito parecidas. Gostamos de beber, de festejar, de comer. Os irlandeses não se apressam e os portugueses também não, têm o seu próprio ritmo”, frisou.

Filipe Caldas considera que esta tradição, que já tem decorre há 16 anos, tem contribuído para tornar a aldeia mais conhecida.

“Tivemos fotógrafos de vários pontos do país e do estrangeiro e isso é gratificante. Vieram americanos, ingleses, espanhóis, franceses, um casal de italianos que fazem parte da Unesco e isso é sinal de reconhecimento além fronteiras. Há pessoas que vêm a outras festas e dizem que queriam ver uma tradição mas só veem tascos, conjuntos e não chegam a ver o que queriam ver”, aponta.

Já o presidente da Câmara de Bragança, Hernâni Dias, considera que esta festa “é um símbolo e ainda bem que tem havido a preocupação destas entidades em continuarem a valorizar esta iniciativa e esta componente identitária daquilo que é o nosso território”. Estas manifestações culturais no meio rural ajudam não só a preservar a tradição mas a valorizar o próprio território e a dinamizá-lo de uma forma diferente. Não é que seja um evento de massas mas trazem sempre outras pessoas de vários pontos do país, que apreciam este tipo de iniciativas e que, depois, acabam por transmitir e divulgar elas próprias aquilo que aqui se passa

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