A opinião de ...

A Sociedade VIII. A vida na Aldeia – A economia familiar c)

A economia caseira recorria ainda a toda a criação de aves (e respectiva produção de ovos) que, para além de garantir as gerações seguintes, eram fonte de proteína em todas as épocas do ano. Mais raramente, algumas famílias, mais abastadas, abatiam um vitelo, frequentemente em conjunto com outras, dada a impossibilidade de conservar quantidades de carne relevantes, por muito tempo.
Importante era também a ripa das oliveiras para a conserva das azeitonas e para a produção de alcaparras (não confundir com os botões de flores, ainda encerradas, de arbustos mediterrânicos). Eram, como ainda hoje, presença à mesa em quase todas as refeições. A azeitona tinha de ser apanhada antes da maturação se iniciar, ainda verde. As azeitonas de conserva eram cortilhadas, isto é, faziam-se incisões ao comprido, com uma faca, até ao caroço, trabalho moroso e cansativo por ser feito uma a uma. Já para as alcaparras, o caroço era extraído mediante uma pancada seca na azeitona, contra uma madeira, que partia a polpa e permitia a extracção do caroço. A cura subsequente, de umas e outras, tinha requintes de segredo culinário, mas basicamente tratava-se de mudar a água onde eram imersas, com a frequência que variava de casa para casa.
Esta abundância relativa de produtos caseiros supria também algumas outras necessidades, como o custear da saúde. Frequentemente os poucos médicos que havia não cobravam as suas consultas, quando percebiam as dificuldades do cliente. Perús, leitões e outros agrados eram frequentes por altura das festas, como forma de pagamento e ou agradecimento. Embora de economia familiar se não trate, havia sempre esta enorme dificuldade da saúde. A escassez de médicos e de hospitais trazia sempre alguma angústia, em especial aos mais velhos ou aos pais das crianças mais novinhas: os imprevistos sempre acontecem.
Há uma histórica verídica de um médico de Macedo de Cavaleiros, (Dr. AUP), que praticava frequentemente esta medicina gratuita, que num Natal recebeu 18 perús, ficando com a dificuldade imediata de ter de gerir o bando. Acabou por ter de pedir a alguém que os vendesse na feira.
Outras produções importantes na economia caseira eram as hortas, onde as árvores de fruto tinham sempre lugar, nas extremidades. Havia sempre figueiras, macieiras, pereiras, cerejeiras, pessegueiros e uma nogueira. As amendoeiras estavam em terrenos mais secos. Estes frutos eram preciosos por complementar a dieta nas épocas da produção e, no caso dos frutos secos, por se conservarem por longos períodos.
Curiosamente a secagem de carne ao sol nunca foi utilizada, do meu conhecimento, embora pudesse ter sido uma opção interessante, dadas as características de temperatura e humidade relativa durante o verão. Foi sempre o fumeiro a preencher esta lacuna.
A economia de subsistência, aproveitando cada oportunidade das diversas produções, era a regra e o domínio destas técnicas estava muito bem adaptado às necessidades e objectivos da vida.

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