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Momento Político: Os fangios voadores nos top de gama do Estado

Na semana passada, através duma reportagem da SIC, assisti atónito a uma deslocação, dita em serviço, do Sr. Dr. Pedro Nuno Santos, o ainda ministro das estradas, portos, aeroportos, e vias férreas que, num desrespeito total pelo código das estradas, pela sua segurança, das pessoas que o acompanham e dos utilizadores das vias publicas, se deu ao luxo de fazer uma viagem oficial num potente carro de serviço top de gama, a bater quase sempre uns arriscados 150 a 200 quilómetros hora.
Perante o inédito desta situação, veio-me à lembrança a única infração cometida durante o mais de meio século que já levo de condução, numa viagem a Miranda do Douro a convite da recém fundada Associação de Dadores de Sangue local para, voluntariamente, colaborar na organização duma campanha de promoção da dádiva de sangue e, perto de Izeda, fui multado pela Polícia de Viação e Trânsito em 10.000 escudos, por “ter ultrapassado, imaginem, em 2 quilómetro o limite de velocidade permitida” a qual me aconselhou a não pagar a multa e fazer uma exposição para o Governador Civil, o que fiz imediatamente.
Já com a multa quase a prescrever, fui informado pelo Governo Civil de que, “ Apesar do grande mérito e valor da sua atividade de voluntariado, lamentamos informar V. Ex.ª que foi decidido manter a multa que lhe foi aplicada, a qual terá de ser paga, com mais 8 000 escudos de juros de mora. E assim, “ A bem da nação (!)”, por dois míseros quilómetros de velocidade a mais naquele deserto, voaram 18.000 escudos para fora do meu bolso.
Confrontado com esta atitude do senhor ministro, tão grave como provocante e vergonhosa, que veio, mais uma vez, destapar e por a nu, a utilização negligente, desastrosa e quase criminosa, do gigantesco parque automóvel do estado, goste-se ou não, e porque a justificação do senhor ministro foi mais ridícula que uma anedota de um qualquer Bocage de esquina dos novos tempos, seria igualmente criminoso não aproveitar esta oportunidade para, com todas as letras, pedir explicações credíveis a todos os responsáveis (!) pela indisciplina e pelos desmandos na utilização das viaturas que, se fossem utilizadas com critério e rigor, exclusivamente ao serviço do estado , poupar-se-iam milhões ao erário público em combustíveis, manutenção, reparações, ajudas de custo e outras mordomias, milhões que, nesta crise que ameaça submergir-nos, dariam imenso jeito, sobretudo para:
- Substituir as ambulâncias do INEM, que continuam em serviço a cair de podres sem condições mínimas de comodidade e de segurança, pondo em riso a vida dos doentes e dos profissionais que as utilizam;
- Dotar as forças de segurança dos meios necessários para o cabal desempenho das suas funções em prol do país e da comunidade;
- Prolongar a vida útil das viaturas ao serviço exclusivo do estado;
- Aliviar as pessoas mais necessitadas das consequências desastrosas da atitude desumana de quem chumbou o Orçamento do Estado para 2022.
- Não sacar até ao último cêntimo dos bolsos dos contribuintes.

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