A opinião de ...

Um de Junho, o Dia Mundial da Criança. E os outros 364?

Pela enésima vez, no passado dia um de junho, com a inutilidade e a hipocrisia do costume, celebrou-se mais um dia mundial da criança.
Por mais que custe aceitá-lo, ano após ano e celebração após celebração, resumiu-se tudo à mesma farsa de sempre, deixando sem resposta as mesmas questões de sempre, como se elas se resolvessem por si próprias, ou com festas e festinhas ridículas sem qualquer sentido e as crianças fossem simples brinquedinhos para os adultos se divertirem.
Assim, mais um dia mundial da criança, mas para quê e para que crianças?
Quando tanto se fala dos direitos das crianças, em vez de se entreterem com a organização destes passatempos ridículos, seria bem melhor que a sociedade no seu todo, os governos, os educadores e as famílias se juntassem para dar respostas válidas aos os problemas reais que ameaçam o futuro digno a que todas as crianças têm direito.
Se nada for feito para inverter esta situação, será impossível proporcionar um o futuro digno para as crianças, num país como o nosso onde nada corre como devia, para muitas das quais começa a falhar tudo mesmo antes de nascerem, e muito difícil evitar as consequências demolidoras do futuro sem futuro, sem valores e sem princípios que as espera, no qual tudo lhes é sonegado, a começar pelo direito de nascer com dignidade, crescer e viver felizes num ambiente familiar estável onde foram desejadas e são amadas.
Bem pelo contrário, na atual cultura do egoísmo sem limites que carateriza a sociedade atual, há milhões de crianças às quais se nega o direito de verem a luz do dia, tira a possibilidade de expressarem a sua vontade e de se defenderem, carregam consigo o peso dum destino que não construíram nem mereciam, cujas alternativas se limitam a:
- Serem descartadas como trastes inúteis e incómodos e depois, pela calada da noite, sem dó nem piedade e sem respeito pela sua dor e pelos seus direitos, sepultadas na imundice dos contentores do lixo indiferenciado;
- Para salvar as aparências perante a sociedade, serem “autorizadas a nascer“ para depois, na primeira oportunidade, serem abandonadas à sua sorte, entregues aos avós, dadas para adoção aos primeiros pretendentes que apareçam, ou armazenadas na primeira instituição que se disponibilize a acolhe-las;
- Como as incontáveis Jéssicas e Valentinas deste mundo, serem maltratadas, chantageadas, exploradas, e torturadas até à morte no seio da própria família, onde nunca souberam o que é um carinho , um afeto ou um sorriso.
Nestas condições, será que se justifica insistir na farsa de celebrar o ”Dia mundial da criança”?

Edição
3938

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