De Marcelo a Rui Rio
A dois meses de eleições presidenciais o atual Presidente da República ainda não oficializou a sua candidatura. Para já, são conhecidos quatro candidatos que disputam o maior número de votos possível, mas sem a menor veleidade de disputar a eleição presidencial. Marcelo é, sem dúvida, o candidato vencedor e assegurará a sua reeleição com uma esmagadora maioria de votos, o que o legitimará, mais uma vez, como o Presidente de todos os portugueses.
Marcelo foi, para a generalidade dos portugueses, um Presidente presente, próximo das pessoas, de empatia fácil e que, simultaneamente, soube influenciar as decisões governativas, num quadro de solidariedade institucional e sem a fricção que o anterior Presidente Cavaco Silva patenteou no exercício dos seus mandatos. Marcelo esteve à altura das suas responsabilidades, prestigiou a função presidencial e as instituições democráticas e tem sido o garante do seu regular funcionamento e, em particular, da estabilidade institucional. É isto que se quer de um presidente e por isso tem o meu apoio e o da esmagadora maioria dos portugueses.
Ademais, os outros candidatos, uns mais à esquerda e o outro (o tal André) xenófobo e racista, vêm para disputar votos e reconhecimento popular. Ana Gomes e Marisa Matias disputam um eleitorado que faz parte de uma certa esquerda urbana, com algum pretensiosismo intelectual e eivada de algumas causas ditas fraturantes e que, no plano ideológico, colhe alguma inspiração nas supostas democracias populares. O discurso é mais ou menos radical, estando mais contra do que a favor e fazendo dessa intervenção reivindicativa uma orientação para tornar o Estado ainda maior, sem cuidar de avaliar a ineficiência inerente ao aumento do peso do Estado na economia e na sociedade. Quanto ao candidato do PCP, sendo um candidato jovem, mantém a mesma liturgia suportada em dogmas e em cismas que a realidade se encarregou de desmontar. Vai, como sempre, para testar o seu (do partido) peso eleitoral.
Numa espécie de Trumpismo/Bolsonarismo à portuguesa, o candidato André Ventura ousa desafiar o regime e, com uma narrativa demagógico-populista, tenta cavalgar a onda de descontentamento e de desilusão para, armado em cavaleiro andante, prometer a salvação mirifica dos que sofrem e dos que não querem pagar impostos. O que propõe representa um retrocesso civilizacional de séculos, fazendo-nos voltar aos tempos em que nem os animais piavam. A democracia produz, não raras vezes, este tipo de demagogos que, alcandorados na generosidade/permissividade do regime, se propõem destruí-lo, ou subtraí-lo em matérias tão essenciais, como são os direitos cívicos e a liberdade individual. Desejo, sinceramente, que tenha um punhado de votos, como desejei o mesmo para o Trump, o Bolsonaro e outros que tais.
Rui Rio, de quem sempre tive a ideia de um político sério, surpreendeu-me com esta inflexão (golpe de rins) que aproximou o Chega do PSD e vice-versa. Na política não pode valer tudo para se conquistar o poder e é nos momentos difíceis que se avalia a qualidade dos líderes e a sua capacidade para resistir a tentações perversas. O acordo feito para viabilizar o Governo regional açoriano constitui um golpe fatal para Rui Rio, retira-lhe credibilidade e espaço político e torna-o em mais um trampolineiro igual aos que justificam os meios com os fins que querem atingir. Da sensatez de Marcelo à insensatez de Rui Rio vai a diferença entre um vulto e um pigmeu da política. E nada pior para o país que não haver uma oposição forte e credível para garantir a alternância como fator fundamental para a dinâmica do regime democrático. Rui Rio cometeu um erro colossal, por um lado porque cedeu a princípios que em situação alguma podem ser “colocados debaixo dos pés” e, por outro, porque não precisava de o fazer porque os dois deputados eleitos pelo Chega votavam naturalmente um governo liderado pelo PSD. Há de facto erros que são fatais.